Saturday 10 March 2012

Heleninha Costa & Ismael Netto 1950-1951

Helena Costa Graziolli  * 18 January 1924 + 11 April 2005 in Rio de Janeiro 
Ismael de Araujo Silva Netto  * 7 December 1925 in Belém-PA + 31st January 1956 in Rio.

Heleninha Costa & seus perfumes franceses.
Heleninha Costa, dona Dolores e o noivo Ismael Neto.
reportagem da revista Carioca de 30 Novembro 1950.

O carnaval de 1951 com Heleninha Costa 

Heleninha se prepara para o carnaval de 1951, gravando marchas ['Princesa do Sião' e 'Macaco me lamba'] e sambas ['Vida vazia' e 'Bonequinha da Holanda'] para os foliões - 'Quando Momo acordar, estarei já fantasiada e espalhando minhas músicas!', assim falou a simpática cantora da Radio Nacional - Heleninha e seu noivo, Ismael Neto, um casal ideal.

Quando fomos visitá-la sábado passado, apesar da quase tempestade do dia, encontramo-la ao lado da rádio-victrola ouvindo suas próprias gravações, ainda desconhecidas do público, e que marcarão o início dos lançamentos musicais para a festa de Momo. Estava rodeada de discos e os ouvia atentamente, procurando julgá-los como se fosse uma boa foliona decorando as letras. As composições são: 'Princesa do Sião', marcha de Ismael Neto, Paulo Marques e Victor Simon; 'Vida vazia', samba de Paulo Marques e Arlindo Borges; 'Macaco me lamba', marcha de Ismael Neto e 'Bonequinha da Holanda', samba de Pedro Caetano e Clemente Muniz.

A conversa decorreu à respeito de carnaval, de compositores, de fantasias, de radio e de... noivado! Sim senhores! De noivado porque Heleninha está comprometida com o simpático e amável Ismael Neto, um dos elementos de Os Cariocas, famoso conjunto que também apresentará sucessos para a grandiosa festa. Indiscretamente lançamos a clássica pergunta: 'Mas, quando memos os doces?' Disse-nos que em 1951, já deverão estar unidos, e temos a certeza que será um glorioso e feliz casal.

Por fim, surgiu um cafezinho feito pela dona Dolores, progenitora de Heleninha e senhora de extrema simpatia. Logo em seguida nossa entrevista se viu terminada, pois o maestro Chiquinho telefonava, reclamando sua presença para alguns ensaios, dos quais resultarão verdadeiras e empolgantes surpresas para os foliões de 1951.

reportagem de J. Palhares para a revista Carioca de 30 Novembro 1950.




Heleninha e Isamel inspecionam uma edição de 'Arte de comer bem'; Ismael disse: 'O amor não basta...', e lá foi a coitadinha da Heleninha Costa aprender algumas receitas do clássico 'A arte de comer bem'! O noivo é exigente, não? Sua voz e beleza não chegam?...

Heleninha Costa foi a primeira a gravar 'Barracão', de Luiz Antônio e Oldemar Teixeira Magalhães, na RCA Victor em 20 Agosto 1952, com lançamento em Novembro; 78 rpm n. 80-1007, matriz SB-093411.

charm & poise.
Heleninha Costa prepara-se para cantar enquanto Cesar de Alencar deixa o palco.
Heleninha Costa em Maio 1946.
Ismael & Heleninha who resembled Louise Brooks in a way... 
When Ismael Neto died on 31st January 1956, his sister Hortência Silva took his place at the vocal group Os Cariocas.


Monday 5 March 2012

DALVA DE OLIVEIRA - Rainha do Radio 1951


MARLENE passou o cetro à DALVA DE OLIVEIRA

revista 'Carioca' 8 Fevereiro 1951.

Todos os episódios da eleição para Rainha do Radio de 1951 estão ainda vivos na memória das pessoas devido aos matizes dramáticos que os coloriram.

No dia 30 de janeiro de 1951, comparecemos ao IV Baile do Radio, no Teatro João Caetano, a fim de assitirmos ao solene ato da coração de Dalva de Oliveira.

A penetração no recinto foi um pouco dificil. O carro mal se alinhou, pois, contida por cordões-de-isolamento e por fôrças policias e militares, uma pequena multidão de curiosos embaraçava o movimento dos convidados, os quais, para terem acesso ao teatro, tiveram que formar em fila-de-um, porquanto tentativas de invasão já haviam sido esboçadas.

O teatro regogitava, literalmente tomado. Duas excelentes orquestras animavam as danças e os cordões. Os foliões multiplicavam-se e exibiam um entusiasmo admirável. Fantasias ricas e originais, mas, também, fantasias que não eram fantasias, apenas, trajes mais condizentes com a temperatura e os foguedos.

Foi um baile animadíssimo.

Pelas frisas e camarotes se viam astros e estrêlas do mundo radiofônico, como Ismênia dos Santos, Heber de Bôscoli, Yara Salles, Manoel Barcelos, Victor Costa, enquanto lá no tablado, engolfados na folia, gingando, cantando, poulando e bebendo estavam Roberto Faissal, Enio Santos, Manuel Brandão, Jairo Argileu, Dolores Duran, Neusa Maria, Helio do Soveral, Acyr Boechat, Afrânio Rodrigues, Blackout, Orlando Corrêa, Nuno Roland, Noel Carlos e sua irmã Regina Flores. Sentados, em redor de mesas, Raul Brunini, Carmelia Alves, Jimmy Lester, Aracy Costa e outros nomes que não nos ocorrem no momento.

Quando Dalva surgiu, as orquestras atacaram a marcha 'Zum-Zum', gravada por ela. Marlene a esperava. Entre as princesas, Marilena Alves, Carmelia Alves e Aracy Costa, todas cingindo a faixa simbólica. Rei Momo fazia o par com a nova rainha.

Como a um toque-de-comando, todos se movimentam em direção à Dalva, querendo vê-la, abraçá-la, cumprimentá-la. Os fotógrafos queimam flashes, tropeçando aqui e ali, levados e envolvidos pela massa.

Vivas à Dalva ecoam pelo recinto.

Marlene estava elegantíssima, num vestido claro bem talhado e descendo-lhe, insinuante, pelo corpo até quase arrastar-se pelo soalho.

Durante dois anos, o cetro de Rainha do Radio refulgiu em sua fronte. Dignificou-o. Também soube usufruir as vantagens do título. Da cantora que se popularizava, à época em que foi eleita, em 1949, chegou à 'estrêla' que é hoje, composição definida no cenário radiofônico e um numero elevado de fãs e ouvintes convictos.

Tem personalidade a intérprete de 'Sapato de pobre'. Basta vê-la e ouvi-la no programa 'Entra na Faixa', de Fernando Lobo, transmitido às sextas-feiras.

Dalva de Olilveira, que a sucede em momento culminante de sua vida e de sua carreira artística, leva, por isso, grande soma de responsabilidade para o seu reinado, onde o zêlo e a sobriedade hão de pontificar, para sua glória e satisfação dos fãs.

Ao terminar o baile, o público que se retirava ainda prestou uma homenagem à Dalva.

Localizada numa frisa que fica à saída do teatro, Dalva, de lá, frente aos retirantes, começou a responder à saudações dos fãs... e daqui a pouco todo o teatro entoava a marcha 'Zum-Zum' e, depois, compassadamente, pronunciavam o seu nome: Dal-va! Dal-va!! Dal-va!!!

Um fêcho emocionante para uma festa memorável e alegre.

Reportagem de Miguel Curi
Fotos de Helio Pontes
revista Carioca de 8 Fevereiro 1951.
Comentario

Nota-se que o articulista usa vocabulário típico de quem vive numa monarquia, muito embora o Brasil já fosse república há mais de 60 anos. Palavras como 'pontificar', 'reinado', 'princesas', 'cetro', 'glória' etc. são usadas e abusadas.

O relato sobre a movimentação que acompanhou a coroação da nova Rainha do Radio foi muito bem feita pelo Miguel Curi. Ele conseguiu construir uma narrativa onde o leitor entra dentro do baile e participa dos folguedos. Parabéns ao Miguel!



Sunday 4 March 2012

VANDER LOUREIRO, cantor.

Vander Loureiro, acompanhado por Carlus Maximus (Luiz Amorim) no Pateo do Collegio em São Paulo.
Carlus Maximus acompanha Vander Loureiro, que é ajudado por Sirley.
Gabriel Gonzaga acompanha Salomé Parisio. Hugo Giovanelli checks it out!
Carlus Maximus, Thais Matarazzo, Ricardo Santos & Vander Loureiro numa tarde de terça-feira no Pateo do Collegio.
Gabriel Gonzaga, Ricardo Santos, Thais Matarazzo & Fabio Siqueira.
Thais Matarazzo, Shirley & Denise Duran numa tarde de 3a. no Pateo do Collegio circa 2009.
Vander canta no choro de sábado na Contemporânea em 2010.
Vander Loureiro canta 'Por causa dessa cabocla' de Ary Barroso, na Contemporânea - 31 Mar 2012.
Beto Abrantes, Carlus Maximus & Vander Loureiro at Casa de Portugal. 

HORMINDO RETAMERO, cantor-de-tangos

Longa-duração de Hormindo Retamero prensado pela gravadora Continental.
Contra-capa do LP do cantor brasileiro Hormindo Retamero.
lado A.
lado B.
Hormindo Retamero nos anos 1950.
Hormindo Retamero canta acompanhado por Carlus Maximus no Pateo do Collegio.
Hormindo era um performer natural... ele cantava impromptu, a capella, onde for que estivesse...
Hormindo Retamero e Salomé Parisio acompanhados por Gabriel Gonzaga no Pateo do Collegio.

Neuza Guerreiro  entrevista  Hormindo Retamero  - 15 Março 2005

(Thais Matarazzo participa como ouvinte. Pérola chega no terço final da entrevista.)

Neuza Guerreiro: Qual o local de seu nascimento?

Hormindo Retamero: Jahú, Jahú.

N.: E data de nascimento?

H.: 27 do 12 de 22 - 27 Dezembro 1922! Parece que eu tenho 85, 86, mas tenho 82 anos mesmo. 82 mil km rodados! [risos]

N.: Qual é a origem de sua família? Origem étnica?

H.: Espanhola, de Granada.

N.: Sul da Espanha?

H.: Sim!

N.: Invadida pelos mouros?

H.: Sim, há muitos anos estive lá. Gostei muito.

N.: O sr. nasceu aqui no Brasil porque seus pais vieram como imigrantes?

H.: Em 1912.

N.: O sr. se lembra de seus avós?

H.: Muito vagamente! Só de minha avó.

N.: Então fala alguma coisinha dela.

H.: Minha avó era uma velhinha, que quando me encontrava, me dava dozento-réis, quinhento-réis. Eu ficava louco de alegria. [todos riem]

N.: Ela era espanhola?

H.: Ô !

N.: Como é que ela chamava?

H.: Carmen.

N.: Bom nome, de espanhol mesmo, né? Era essa avó que o sr. se lembra?

H.: Só. O outro eu conheci de fotografia. Francisco Olmos, cara elegantão; que nem eu! Que eu fui elegante também. Parece que não, mas já fui um dia. [N. ri] É bom dar uns pulos na vida!

N.: Agora, fala alguma coisa sobre seus pais.

H.: Meu pai, trabalhador. Foi administrador, onde eu nasci, na Fazenda do Chiquinho Pacheco, em Jahú. Nasci lá. Saí de lá com 4 ou 5 anos. Saí, não; meus pais me trouxeram. Eu tinha cachinhos. Ainda tem fotografia! Minha mãe guardou um cachinho meu até há poucos anos, no modo de dizer, é! E eu chorava porque perguntavam se eu era menino ou menina. [N. e T. riem] Eu era bonitinho, sim. Agora eu sou meio feião, mas era bonitinho.

N.: Mas o sr. ainda se lembra de seus pais? Eles eram bravos?

H.: Não, meu pai era de uma personalidade fóra-de-série. Eu apanhei uma vez só; uma chinelada da minha mãe. Como dizer que meu apelido era "la malva de la casa"; faz uma ideía, né! como eu era bonzinho!! Eu enchia o tanque de água para minha mãe lavar roupa; ia fazer compra; e um irmão meu dizia: "Ah, tá fechado!", só para não ir.

N.: Essa é uma boa lembrança dos seus pais que o sr. tem né?

H.: Ô !

N.: E o sr. foi casado? É casado?

H.: Eu conheci a minha esposa quando eu tinha 8 p’ra 9 anos. Nove anos! Eu estava jogando bolinha e passou um amigo que era conhecido como ‘Pula-Brejo’. O Toninho conheceu o João Pula-Brejo! "Aonde você vai?" Ele respondeu: "Ah, eu vou pedir serviço numa fábrica de boneca." – "Então eu vou junto com você!" E fui. Cheguei lá, e a que veio a ser minha sogra estava descascando batatinha, com uma travessa dessas de ágata. E o rapaz entrou. "E vos otros, quieren también servicio?" Eu falei: "Quero, sim senhora!" Aí o seu João, marido dela, estava fazendo verniz no quintal. Verniz p’ra envernizar as bonecas. Ela falou: "Hay ahi dos niños!" Era eu e um amigo meu, Cesário França, estabelecido em Suzano, com material de construção atualmente. Bom, "Hay ahi dos niños!" Minha sogra era viva até outro dia! Muito esperta. Ele falou: "No, no precisa!" – Aí ela lembrou do pior trabalho da fábrica, e ela falou: "Y las tiras?" As tiras – tapa-tiras, era um trabalho desgranhento de ruim!

N.: O que que é isso?

H.: Tapa-tira! É... faziam as duas peças. Por exemplo, o bracinho [da boneca] tinha duas peças e depois que cortavam as rebarba, ainda ficava um pouquinho, umas aberturinhas. Então tinha que passar cóla e passar a fita em volta. Fui o melhor tapador de tiras. [a Pérola está chegando]. Ólha como ela está bonita! Gostei do cabelo hoje. Aí fiquei lá alguns anos. De lá, abrimos uma fábrica. Péra, não! Fui trabalhar no Ulisses Nogueira, uma outra fábrica de boneca. Vamos dar um salto agora p’ros 20 anos? Fazer quiném a história do homem, né! 14 anos, 20, 40. Essa eu conto depois, fóra da gravação. Aí abrimos uma fábrica, eu e meu irmão. Rua do Ouro, 370, antigo 44. Fábrica de Bonecas Branca-de-Neve! Trabalhava quiném um louco, mas dáva para o arroz-e-feijão. Agora vamos a quanto? Vamos passar p’ros 20 anos? Vamos 23, 24 anos. Eu, apaixonado por tangos de Gardel: "Puxa, preciso conhecer a Argentina. Ah, vou conhecer Buenos Aires." E me arranquei. Ah, mas que pinta!

N.: Eu pensei que você estivesse apaixonado pela Maria!

H.: Olha! Ô ! Já contei esse pedaço! [risos]. Aí fui p’ra Buenos Aires. Tive que vender um terreno, que eu estava pagando à prestação na Vila Santa Terezinha. Vendi! A pessoa que comprou fez um bom negócio; que eu vendi baratinho. Peguei um trem aqui na Estação da Luz. Avisa quando está na hora de começar a encerrar, que eu vou p’ros 60 já! [Neuza ri]. Daí fui p’ra Buenos Aires. Cheguei lá louco! [alguém chegando e passando pela mesa onde a entrevista está sendo feita]. Olha, esse aí faz anos depois de amanhã, heim! Cheguei em Buenos Aires, e eu era estampador aqui no Brasil. Eu fui estampador na Estamparia Fernandes, na rua Tuiúty, lá no fim! Quando eu pedi emprego numa estamparia em Buenos Aires, queriam me pegar na hora, pela falta que fazia! Imagina que diferença hoje, heim! Aí eu comecei a trabalhar de estampador. Aí, quando eu saía da estamparia, eu ia cantar no Parque Retiro. Agora, por que você foi cantar? Porque numa tarde que eu fui conhecer o Parque Retiro, que era antigamente Parque Japonés, eu peguei o telefone público: "Con permiso?" Peguei, e liguei para minha cunhada. Falei: "Escuta, Dalva, fala p’ro Francisco trazer a Lizete neste parque, que é uma maravilha." Antigo Parque Japonés, Parque Perón, Parque Retiro – teve vários nomes. Aí quando eu desliguei, veio um camarada e disse: "Usted es brasilero?", "Sou brasileiro.", "Uh, peró que me gusta es la musica brasilera! Alegre!" Falei: "Ah, é?" Eu fumava naquele tempo quiném uma besta! Não devia ter fumado nunca! Peguei a caixinha de fósforo e comecei: [cantando um sambinha] "Se eu fico em casa você tá falando, se eu vou p’ra rua..." "É isso, é isso!" E gostaram e juntou gente. Um camarada, que era dono de uma barraca daquelas que fazia espetáculos, me abraçou e falou: "Este me lo llevo para el boogie-boogie!" E cheguei no boogie-boogie e me apresentaram: "Este es el brasilero que canta. Mirenlo como canta!" Eu fazia só p’ra chamar atenção: [cantando] "Brasil, meu Brasil brasileiro..." "Vaian, vaian pasando..." E aquilo era só farol, porque eu nem conheço a letra dessa música! [N. ri]. E aí cantava. Recebia 12, 13 pesos por noite, e fui pondo na Caixa Econômica. Com o que eu ganhava na estamparia e cantando à noite, eu juntei um dinheirinho e pus na Poupança. E um dia eu resolvi vir embora, que me bateu a nostalgia! Eu falei: "Vou embora!" – E vim embora! [Falando para a Pérola]: Namorei aquela moça que você conheceu... o pai dela... [Pérola diz algo inaudível... traição!] No, no, mas isso foi de passagem. Isso foi uma fraqueza da minha...

documento argentino de Permissão para Trabalhar quando Hormindo viveu em Buenos Aires.

N.: Quando é que o sr. casou?

H.: Eu casei com 33 anos, aqui no Brasil já! [1955] Cansado de Vila Sofia; cantei na Vila Sofia. Cantei no Lilas, o famoso Lilas. Vai muito longe isso? [referindo-se à fita cassette do gravador da Neuza].

Maria & Hormindo Retamero.

N.: Não, eu paro quando... pode deixar que eu encaminho. Fala agora da sua esposa um pouco.

H.: A minha esposa é a coisa mais maravilhosa! Ontem, esta noite mesmo, eu deitado, eu pus a mão assim por cima dela, que já estava altas horas da noite, e aí eu falei: "Puxa vida, eu não pensei que Deus ia me dar uma esposa tão maravilhosa." – E ela falou: "E eu também nunca imaginei que você fosse um marido que é!" - Eu falei: "Ih! Com essas declarações nós estamos feitos!" [há um burburinho entre as várias ouvintes].

N.: Cuidado que as coisas vão...

H.: Não! Minha esposa, ela é muito bacana! Muito, muito! Ela teve uma educação bacana.

N.: O sr tem filhos?

H.: Não! Dios me quiere mucho! Porque dizem, dizem que aquele que não tem filho, el diablo les dá sobrinos! Aqueles que não tem filhos, o diabo lhes dá sobrinhos. Eu tenho uma porção de sobrinhos que me querem muito bem. Estamos tocando a vida. Já estou com 82 e ela com 83, mas parece que tem 3 ou 4 menos que eu. N.: Então, atualmente o sr. vive com sua esposa só?

H.: Ô ! E vou viver até a morte, que não está longe; não brinca, ô!

N.: Quanto tempo o sr. está nesse grupo de colecionadores?

H.: Aqui, acho que uns 10 anos, né, Pérola? Por aí, 10, 12 anos. Pérola: Eu estou há 7 [anos].

H.: Eu já nem me lembro. Tá quanto?

P.: Há sete!

N.: Como é que o sr. chegou até aqui? Como é que o sr. descobriu aqui?

H.: Eu cheguei aqui por causa de um motorista vagabundo! Não quis me abrir a porta [do ônibus] na Praça da Sé, que eu ia tomar o metrô; e ele falou [imitando a voz do motorista do ônibus, que se recusou a abrir a porta]: "Aqui eu não posso abrir!" Assim com bronca! Quando chegou aí [na frente do Pateo], eu, p’ra mostrar p’ra ele, que ele não tinha me prejudicado, desci e vim andando diréto aqui p’ra entrada do Pateo. Cheguei e ia passando; tinha 2 ou 3 meninos falando em bandoneón; aí eu falei: "Já estão mexendo comigo! Falou em bandoneón, mexeu comigo!" – "Por que?" disse um deles. "Ah, porque eu gosto!" - "Ô, então senta aí!" E começamos a bater-papo. [começa a tossir] É por causa do bendito cigarro, ó... [tósse] Ó o cigarro, lindo aí.

N.: E quando o sr. chegou aqui as reuniões já eram aqui neste lugar?

H.: Não!! Que !! Faziam reunião aí fóra. Punham os discos na calçada.

N.: Qual é a musica que o sr. prefere?

H.: Tango, tango, tango que me hiciste mal y sin embargo te quiero porque sos el mensagero del alma de Arrabal. Bonito, né?

N.: E seu intérprete preferido?

H.: Adivinha se é o Carlos Gardel? [todas riem]

N.: O sr tem algum acervo específico? Coleção de discos?

H.: Tenho só... quinhentos... quase 600 números de Gardel. Só em fita.

N.: Bom, eu gostaria de ficar aqui muito mais tempo... muito obrigada.

H.: Eu é que agradeço.
uma foto de Carlitos Gardel em homenagem ao nosso querido amigo Hormindo Retamero.