Sunday, 9 February 2014

Linda Rodrigues at 'Carioca' / Aylce Chaves, songwriter

revista Carioca de 21 Maio 1938: A garota paraense que veio atuar no 'broadcasting' do Rio e de São Paulo.

A revista Carioca apresenta Linda Rodrigues ao País, como uma garota paraense (na verdade, Linda era carioca) que chegou ao Rio para 'conquistá-lo'. Encanta-se com a beleza da moça dizendo: 'Com um sorriso encantador nos lábios, um chapeuzinho atrevidamente cinematográfico e um vestido marrom civilizadíssimo entrou-nos pela redação a dentro a figura mais bonita de cantora que o Pará, ultimamente, nos mandou. Loira, desembaraçadíssima, sem jeito de cabocla nem de selvagem...  

Linda Rodrigues é assim apresentada ao público da revista Carioca como se fosse paraense, quando, na verdade, Linda nascera no Rio de Janeiro, tendo mudado-se para Belém do Pará, apenas há poucos anos. Nota-se o tom 'colonizado' do repórter ao se surpreender com um paraense loira, sem jeito de 'cabocla' (mistura de índio e branco) ou de selvagem, que seria a aparência 'normal' da população daquele estado do norte. 
'Carioca' n.378 - 1943

Alguns anos depois o reporter Luiz do Valle da revista Carioca conta a verdade sobre a origem de Linda Rodrigues, dizendo que, realmente, ela nascera no Rio, mas transferira-se para Belém do Pará, e agora estava de volta. O repórter continua encantado com a beleza da moça que, nesse meio tempo já cantara na Radio Cruzeiro do Sul, Radio Nacional e agora era contratada da Radio Tupi.

Linda Rodrigues admira o jeito norte-americano de angariar fundos para o financiamento da Guerra que comia solta na Europa e Ásia. Linda sugere ao repórter estar disposta a vender beijos por 1 cruzeiro cada (barato, não?) como contribuição sua para a venda de bonus. 

Os preferidos de Linda Rodrigues no campo teatral são: Ernani Fornari, Oduvaldo Viana e Amaral Gurgel. Os atores de Hollywood preferidos de Linda eram Orson Welles, Bette Davis, Greer Garson, Nelson Eddy e Paul Muni. Os melhores atores da comedia nacional eram Olavo de Barros, Procópio Ferreira, André Villon e Jayme Costa.

Entre os melhores autores estrangeiros, Linda preferia: André Marois, Somerset Maugham, Pierre Van Passen e Thomas Mann. Entre os autores brasileiros já falecidos, os escolhidos foram: Machado de Assis, Humberto de Campos e Coelho Netto. Entre os poetas: Olavo Bilac, Manoel Bandeira, Casimiro de Abreu e Adalgisa Nery e Araújo Borges (vivos então).

Linda Rodrigues diz: 'Em janeiro deverei estar na Bahia. É uma terra boa, cuja gente nos cativa sensivelmente. Meu pendor é sempre peregrinar. Não gosto de permanecer estática. Aprecio as paisagens, os cenários deslumbrantes de nosso torrão. Novas emoções, novas coisas. Para não cansar, compreende?'
Linda Rodrigues aparece em mais uma reportagem da revista Carioca, agora falando de sua infância no bairro da Tijuca, onde era conhecida como Gata Russa pelas suas companheiras de peraltice. Há uma foto de quando tinha 8 anos e meio, em 1930. Linda confessa que ouve a Hora da Ave Maria diariamente e que seus compositores preferidos são Chopin e Schubert. Depois da musica e dos livros, seu grande prazer é a vida da praia, com muito sol, nado de peito, jogo de petecas e alguns 'tarzans' para atrapalhar...




O repórter M. Curi, da revista Carioca, encontra Linda Rodrigues nas dependências da Radio Tamoyo lendo um número da revista 'Síntese' e escreve no início de 1944: Linda Rodrigues, olha vago, semblante despreocupado, queixo apoiado nos braços, equilibrando-se sobre as pernas cruzadas, percebeu, de súbito, que lhe seria imposto um interrogatório.


O repórter M. Curi, da revista Carioca, encontra Linda Rodrigues nas dependências da Radio Tamoyo lendo um número da revista 'Síntese' e escreve no início de 1944: Linda Rodrigues, olha vago, semblante despreocupado, queixo apoiado nos braços, equilibrando-se sobre as pernas cruzadas, percebeu, de súbito, que lhe seria imposto um interrogatório.
Linda, se você fosse atriz de Hollywood, e tivesse que destacar um galã para beijar, qual o que escolheria? - Puxa, quanta indiscrição. Mas não importa. Como o aprecio, não só pela sua voz, desempenho e personalidade, como também pela simpatia que irradia, Nelson Eddy seria o escolhido.
Joan Crawford in Somerset Maugham's 'Rain' (Chuva) 

- E o radio-teatro? - Sou ouvinte ocasional das novelas. Porém daria tudo para ver radiofonizado 'A chuva', admirável conto de Somerset Maugham
- Ainda não gravei nenhum disco. Prefiro cantar o samba-canção... está de acordo com meu temperamento romântico e minha sensibilidade. 

- Minha dança predileta é o bolero porque suave e envolvente, é uma música, à semelhança da valsa, que nos desperta para a vida... uma vida cariciosa, serena e amorosa. 

- E o seu provérbio favorito?
- 'Mais depressa se pega um mentiroso que um coxo.'


Abaixo do nível

A tua vida tem sido uma tragédia
nem sequer na classe média conseguiste aceitação
E é por isso que o teu viver é horrível
Viver abaixo do nível da tua colocação

O teu destino tem um D tão pequenino
que nem com microscópio ninguém consegue ver
Lamentas, mas tem a tua razão
porque não é só do pão que depende o teu viver
bem, podes crer.

samba de Alvaiade & Odaurico Motta
1a. gravação de Linda Rodrigues 

Discos Continental - Janeiro 1945
A. Enxugue as lágrimas (Elpídio Viana-Carneiro da Silva)
B. Abaixo do nível (Alvaiade-Odaurico Motta)
11 November 1942
1949.
Lindíssima Linda Rodrigues em 'glossies' de fazer inveja a Hollywood.
'Correio da Manhã' 7 February 1950.
magazine 'Carioca' kept on lying - even in 1951 - that Linda Rodrigues was born in Belém-PA.

AYLCE CHAVES, compositora 


Aylce Chaves preferiu o samba

'Revista da Semana', 6 Abril 1940, por Francisco Galvão.

Assistia certa razão a Noël Rosa ao afirmar que o cartaz do artista do radio vem do compositor. Ary Barroso tem feito muita gente. Ataulpho Alves também.

Apenas queremos revelar uma das compositoras mais queridas do Rio, cujos sambas e marchas deliciaram os homens agitados da Broadway na voz bonita de Carmen Miranda. Aylce Chaves na idade em que as garotas namoram e falam de artistas-de-cinema prefere fazer musica popular, fazendo dupla com seu irmão AcyrO repórter desce na Tijuca. A rua José Hygino, elegante e discreta, esconde entre gardênias a casa da artista. Vamos descobri-la na sua vida interior, ao lado de seu inseparável violão, preparando uma marchinha. 

Simples, dona de uma graça ingênua e doce, abre-se em confidências sobre o seu interesse pelo radio. - Terminava o meu curso no Colégio D. Pedro II, quando fiz o primeiro samba. Lembro-me que se chamava 'Chegou'. Cantei para as colegas; gostaram. Gostaram em verdade, ou apenas estimulariam uma principiante? A dúvida esteve comigo durante muito tempo. Fui das mais sinceras 'fãs' de Luiz Barbosa. E esse fato, talvez, concorresse muito para meu estímulo. Desejava melhorar o que fazia, conseguir alguma coisa bela, para que ele a interpretasse. 

- Não sou profissional. Vivo de outras coisas. Tenho de que viver. Assim sendo, prefiro passar sem tomar parte na corrida. Tenho algumas marchas carnavalescas, mas acho mais natural que o campo fique mais vazio para quem vive da música da terra. Escrevo por fatalismo; destino talvez. Há muita gente que faz o mesmo. Não acha?

Aylce atende um telefonema de Neyde Martins. Volta com um sorriso brejeiro nos lábios.

- Que mais gosta do que tem feito? - Gosto muito de 'Batucada do meu coração' e da rumba 'Yoyô já quer', do repertório de Carmen Miranda. Aprecio também 'Escravo da lua', criação de Manuel ReisNeyde Martins interpretou um samba 'Tempo feliz que passou'. Linda Baptista canta uma marcha das que mais quero 'Boas Festas'. 

- Quais são os seus artistas favoritos? Carmen MirandaLinda Baptista e, do naipe masculino, Carlos Galhardo a quem dei 'A cor dos teus olhos'. A sua voz é um encantamento. 

- Como escreve? - Quando a inspiração quer. Muitas vezes num ônibus, na rua, no cinema, a melodia chega. Entra sem pedir licença, sem bater palmas, como se fora velha conhecida. Fica nos meus ouvidos; permanece horas a fio no meu pensamento. Ao chegar em casa, tento escrevê-la. E o samba nasce. O samba, a música mais linda do mundo. 

- Carioca teria de querer bem ao samba. - Paulista que sou. Creia que adoro. Fico revoltada quando percebo a campanha impiedosa que fazem contra ele. Os falhados gostam de combatê-lo. Mas ele vai vencendo. Nova York começou a sentir melhor o Brasil quando notou o encantamento melódico de Carmen Miranda. Buenos Aires estreitou mais as suas relações de estima, depois que o samba começou a fazer parte integrante de seus programas radiofônicos. E a festa mais bonita do mundo, o Carnaval do Rio, o que seria sem a música que vem dos morros, que flui da terra, que desce para a cidade enfeitiçando a gente nos cordões ou nas batalhas de confetti. Gosto tanto do samba que deixei de estudar medicina por sua causa. 

Meu pai, que descansa, hoje, dos seus labores do exército, queria. Eu também desejava ser colega de Alberto Ribeiro na ciência de Hypocrates. Mas depois comecei a achar o curso dos mais ásperos. Teria de estudar anatomia e conviver com esqueletos. Compor seria mais interessante. Comecei a escrever e até agora não senti a menor vaidade. Escrevo sambas e marchas como poderia, perfeitamente ser oficial administrativo de um ministério qualquer ou especialista de oftalmologia. Foi melhor; assim deixei de concorrer na vida pública com os homens. 

 Aylce Chaves at 'Revista da Semana'.
Aylce Chaves e Francisco Galvão, chronista da 'Revista da Semana'.
Aylce Chaves no 'Diário da Noite' de 27 Janeiro 1952.

Há certos nomes que se prestam a confusões. 'Aylce', embora sonoro, também poderia pertencer a um barbado. Mas alguém nos informou de pronto que o 'barbado' é uma loura bonita, jovem e 100% feminina. 

Aylce que já escreveu versos e melodias que ultrapassam a casa dos quinhentos, um dia foi flexada por Cupido. Não foi correspondida e entregou-se ao desânimo. O travesso menino fez com que a garota deixasse de compor. Os dias se foram passando e a reação se foi firmando no íntimo da lourinha. Pensou, refletiu e voltou triunfalmente com 'Fracassei', gravado por Heleninha Costa e que tanto sucesso tem obtido. A melodia popular é de autoria de Aylce Chaves em parceria com Peterpan

Autêntica menina-prodigio, sua 1a. composição foi lançada quando contava com 10 anos de idade! Foi Alzirinha Camargo quem a lançou. Todos estamos lembrados daquele samba gostoso que se intitula: 'Não te dou perdão'. 

A lourinha foi crescendo e com ela todos seus sucessos musicais. Em poucos anos conseguiu gravar nada menos do que 20 composições. 

Aylce Chaves também aderiu aos festejos de Momo. 'Nome manchado' é um samba carnavalesco que Zilah Fonseca gravou. 'Segue' foi gravado por Ângela Maria, 'Que bom será' por Dolores Duran e 'Não quero lembrar' por Zezé Gonzaga, nomes que o publico ouvinte aplaude sempre. 

Em 7 anos de radio, Aylce conseguiu abiscoitar cerca de 80 mil cruzeiros. É preciso que se diga que Sátiro de Melo, um dos maiorais em questão de partituras sempre acompanhou essa garota-revelação. Sátiro é 'macaco-velho' e sabe o que faz. 

Vai de vento em pôpa a vitória da loura de Itapetininga-SP. É o exemplo de força de vontade. É espelho em que se devem mirar todos que não tiveram oportunidade radiofônica. Parabéns, Aylce Chaves, já que você é o símbolo de perseverança.  Texto de Alcy Leal para o Diário da Noite.
dois instantâneos da compositora Aylce Chaves.
Aylce Chaves mostra todo seu charme na 'night' do Rio. 'Diário da Noite', 24 Janeiro 1952
Aylce Chaves often wrote for 'Carioca'; this one was written in early 1952, is about Angela Maria who recorded 'Segue' written by Aylce and Paulo Marques. 

Angela Maria começou a cantar ainda criança em festas escolares e familiares. Um dia resolveu enfrentar o microfone e foi ao ‘Pescando estrelas’, programa de Arnaldo Amaral, tirou o primeiro lugar e logo começou a cantar numa emissora carioca. Logo veio proposta de night-clubs até o dia que Jayme Moreira Filho, locutor da Radio Mayrink Veiga, em uma de suas noitadas a ouviu, entusiasmou-se e levou-a à PRA-9 (que era seu grande sonho).

Ainda cantando em boites, foi ouvida extasiado por Erasmo Silva, divulgador de discos, que a levou a um teste na RCA Victor, tendo sido aprovada por Vittorio Latari, que a contratou e supervisionou seu primeiro 78 rpm com 2 sambas: ‘Sou feliz’ (Augusto Mesquita-Ary Monteiro) e ‘Quando alguém vai embora’ (Cyro Monteiro-Dias da Cruz).

O disco não fez sucesso, mas o 2º lançamento subiu ao 1º posto da Parada de Sucesso e introduziu a nova cantora ao Brasil: ‘Não tenho você’ (Paulo Marques-Ary Monteiro) e o bolero ‘Sabes mentir’, de Othon Russo, compositor novo de muito talento. 

Para o Carnaval 1952, Angela gravou 2 discos: os sambas  ‘Meu destino é sofrer’ (Antonio Bichara-Luiz Soberano) e ‘Renúnciei’ (Luiz de França-Cicero Nunes); mais a marcha ‘Balança mas não cai’ (Chocolate-Lourival Faissal) e o samba ‘Segue’ (Paulo Marques-Aylce Chaves), que já desponta como sucesso.
Aylce Chaves writes about her friend Linda Rodrigues for 'Carioca' in 1952
Aylce Chaves escreve artigo na 'Gazeta de Notícias' de 14 Setembro 1956, homenageando o Marechal Teixeira Lott que abortou uma tentativa de golpe militar em 11 Novembro 1955, onde forças anti-democráticas tentavam impedir a posse de Juscelino Kubitschek, presidente eleito pelo voto popular em 2 Outubro 1955. Aylce tornou-se jornalista identificada com o PTB, partido politico que se tornou o maior do Brasil até ser desbandado pelo Golpe Militar de 1964. 


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