MARLENE passou o cetro à DALVA DE OLIVEIRA
revista 'Carioca' 8 Fevereiro 1951.
Todos os episódios da eleição para Rainha do Radio de 1951 estão ainda vivos na memória das pessoas devido aos matizes dramáticos que os coloriram.
No dia 30 de janeiro de 1951, comparecemos ao IV Baile do Radio, no Teatro João Caetano, a fim de assitirmos ao solene ato da coração de Dalva de Oliveira.
A penetração no recinto foi um pouco dificil. O carro mal se alinhou, pois, contida por cordões-de-isolamento e por fôrças policias e militares, uma pequena multidão de curiosos embaraçava o movimento dos convidados, os quais, para terem acesso ao teatro, tiveram que formar em fila-de-um, porquanto tentativas de invasão já haviam sido esboçadas.
O teatro regogitava, literalmente tomado. Duas excelentes orquestras animavam as danças e os cordões. Os foliões multiplicavam-se e exibiam um entusiasmo admirável. Fantasias ricas e originais, mas, também, fantasias que não eram fantasias, apenas, trajes mais condizentes com a temperatura e os foguedos.
Foi um baile animadíssimo.
Pelas frisas e camarotes se viam astros e estrêlas do mundo radiofônico, como Ismênia dos Santos, Heber de Bôscoli, Yara Salles, Manoel Barcelos, Victor Costa, enquanto lá no tablado, engolfados na folia, gingando, cantando, poulando e bebendo estavam Roberto Faissal, Enio Santos, Manuel Brandão, Jairo Argileu, Dolores Duran, Neusa Maria, Helio do Soveral, Acyr Boechat, Afrânio Rodrigues, Blackout, Orlando Corrêa, Nuno Roland, Noel Carlos e sua irmã Regina Flores. Sentados, em redor de mesas, Raul Brunini, Carmelia Alves, Jimmy Lester, Aracy Costa e outros nomes que não nos ocorrem no momento.
Quando Dalva surgiu, as orquestras atacaram a marcha 'Zum-Zum', gravada por ela. Marlene a esperava. Entre as princesas, Marilena Alves, Carmelia Alves e Aracy Costa, todas cingindo a faixa simbólica. Rei Momo fazia o par com a nova rainha.
Como a um toque-de-comando, todos se movimentam em direção à Dalva, querendo vê-la, abraçá-la, cumprimentá-la. Os fotógrafos queimam flashes, tropeçando aqui e ali, levados e envolvidos pela massa.
Vivas à Dalva ecoam pelo recinto.
Marlene estava elegantíssima, num vestido claro bem talhado e descendo-lhe, insinuante, pelo corpo até quase arrastar-se pelo soalho.
Durante dois anos, o cetro de Rainha do Radio refulgiu em sua fronte. Dignificou-o. Também soube usufruir as vantagens do título. Da cantora que se popularizava, à época em que foi eleita, em 1949, chegou à 'estrêla' que é hoje, composição definida no cenário radiofônico e um numero elevado de fãs e ouvintes convictos.
Tem personalidade a intérprete de 'Sapato de pobre'. Basta vê-la e ouvi-la no programa 'Entra na Faixa', de Fernando Lobo, transmitido às sextas-feiras.
Dalva de Olilveira, que a sucede em momento culminante de sua vida e de sua carreira artística, leva, por isso, grande soma de responsabilidade para o seu reinado, onde o zêlo e a sobriedade hão de pontificar, para sua glória e satisfação dos fãs.
Ao terminar o baile, o público que se retirava ainda prestou uma homenagem à Dalva.
Localizada numa frisa que fica à saída do teatro, Dalva, de lá, frente aos retirantes, começou a responder à saudações dos fãs... e daqui a pouco todo o teatro entoava a marcha 'Zum-Zum' e, depois, compassadamente, pronunciavam o seu nome: Dal-va! Dal-va!! Dal-va!!!
Um fêcho emocionante para uma festa memorável e alegre.
Reportagem de Miguel Curi
Fotos de Helio Pontes
revista Carioca de 8 Fevereiro 1951.
Comentario
Nota-se que o articulista usa vocabulário típico de quem vive numa monarquia, muito embora o Brasil já fosse república há mais de 60 anos. Palavras como 'pontificar', 'reinado', 'princesas', 'cetro', 'glória' etc. são usadas e abusadas.
O relato sobre a movimentação que acompanhou a coroação da nova Rainha do Radio foi muito bem feita pelo Miguel Curi. Ele conseguiu construir uma narrativa onde o leitor entra dentro do baile e participa dos folguedos. Parabéns ao Miguel!
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