Saturday, 14 April 2012

Candido Botelho & Carmen Miranda in NY in 1940

Cândido Botelho, born on 24 February 1907, was from a well-off family in São Paulo. He had the chance to study music in Paris and in 1927, was back in São Paulo singing operettas at high-society salons. But Candido really enjoyed pop music and went on to record many 78 rpm discs for Columbia in the 1930s, including Ary Barroso's 'Canta Maria' in 1941.

Candido appeared in Henrique Pongetti's 'Joujoux et balangandans' a popular musical-comedy in 1939, in Rio. He went to the USA in June 1940, to sing at the Brazilian Pavillion at New York's World Fair. He signed with NBC and introduced Ary Barroso's 'Brazil' ('Aquarela do Brasil') to the American public even though he never recorded it. 

While in the USA Candido had the chance to see Carmen Miranda wowing Broadway, but at the same time he realized that samba, the national Brazilian rhythm, was a minority entity being 'lost' in the midst of rumbas, congas and other mainly Cuban rhythms.

Back in Rio in 1941, Candido Botelho gave this interview to weekly Carioca, where he explains how North-americans see Brazil... and declares that samba was not a familiar rhythm in the USA.

In other words, Candido Botelho realized in 1940, what Brazilians have failed to grasp even at a late date as 2013: that we Brazilians, are not special to the American eye. Brazilians have a tendency to think they are 'superior' to the 'rest' of South America. Well, we're not. Actually, Brazilians are even less than the Spanish speaking majority because we lack the 'numbers'. Candido Botelho interview was a wake-up call to Brazilians but it never reached home... 
  

Reportagem da revista Carioca de 12 Abril 1941; o reporter Julio Pires entrevista Candido Botelho, que tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, onde cantou no Pavilhão do Brasil da New York World's Fair de 1939-1940 e no musical 'All in Fun' encenado no Majestic Theater da 247 W. 44th Street, New York, NY, nos dias 27 e 28 Dezembro 1940. Botelho cantou 'Brazil' [Aquarela do Brasil] e 'Xangô', de Villa Lobos em 'All in Fun'. [*]

DESCONHECIDO O SAMBA NOS ESTADOS UNIDOS


E Carmen Miranda? E Alzirinha Camargo? E Cyro Rimac? Candido Botelho responde a todas as perguntas de Carioca - Por que Miranda Boys e não Bando da Lua? O conceito e o interesse que os sul-americanos despertam no país dos arranha-céus.

Candido Botelho sentiu nostalgia da terra. Teve saudade de sua gente. Quis revêr o seu público, os fans que lhe incentivam sua carreira sempre em ascensão. Veio. Deixou a cidade das colunas de cimento-armado pela Guanabara de encantos e poesia. Está de novo entre nós. Estreou-se na PRG-3 com o sucesso que cercam as suas atuações radiofônicas. Já se apresentou ao publico que o aplaude diariamente no Cassino da Urca. Voltou ao convívio dos amigos e das pessoas que o estimam.

Com o Carnaval para mobilizar todas as atenções, só o repórter ainda não tinha se avistado com o querido artista. Falta de tempo. Agora, entretanto, aqui estamos para saldar a divida.

Apesar de chegado ha vários dias, Candido Botelho tem sempre assunto para se conversar. Por isso, escutemos Candido Botelho servindo de veiculo de aproximação do artista com o publico. Ouvimos alguma coisa sobre sua vitoriosa excursão pela terra do Tio Sam.

Reportagem da Carioca mostra Candido Botelho cantando em 'All in Fun'; na foto de baixo Botelho canta 'Xangô' de Villa Lobos, parte do quadro 'Macumba'.

O SAMBA NOS ESTADOS UNIDOS

- Aproveito a gentileza da Carioca - disse-nos, de início, Candido Botelho - repito, mais uma vez, o que venho dizendo desde o dia em que cheguei: o samba é desconhecido do publico americano e o seu lançamento é bastante difícil. Não quero, porém, com isso, dizer que os filhos do Tio Sam não gostem da nossa música, nem que a nossa melodia seja inferior à Rumba, à Conga e ao Tango, que nos fazem concorrência. O que ha de positivo em tudo isso é que a nossa musica é quase desconhecida daquela gente.

E Carmen Miranda? Alzirinha Camargo? Rimac? Você?, perguntam-me espantados. Entretanto, não há razão para todas essas interrogações. Carmen Miranda fez nos Estados Unidos o que poucos têm feito: um sucesso absoluto e definitivo. Tem trabalhado para a divulgação da musica do Brasil. Entra num 'show' faiscando de graça e malícia. Faz rapidamente os seus números. Sorri. Pisca os olhos. Requebra os quadris. Monopoliza por alguns instantes a atenção do público. Abafa de verdade!

O público, que acompanha com o máximo interêsse os números, fica encantado com a melodia que lhe sai dos lábios. Extasiado mesmo! Porém, é só isso. Quando ela se retira de scena, nenhum dos presentes é capaz de assobiar um trecho siquer das canções apresentadas momentos antes. O mesmo acontece com Alzirinha, comigo, com Fernando Alvarez etc.

Candido Botelho's greatest hit was 'Canta, Maria' penned by Ary Barroso for his 1941 revue 'Joujoux e Balangandãs'.
Carmen Miranda makes fun with the textile material at the Brazilian Pavillion at New York's World Fair in 1939
Carmen Miranda cumprimenta a vencedora do concurso de 'melhor cafeteira da Feira Mundial de New York' 1939-1940.
Carmen prova o cafezinho da moça...at the Brazilian Pavillion at the New York World Fair 1939-1940.

AS CAUSAS DESSAS 'DESINTELIGÊNCIAS'?

Como indagássemos dessas 'desinteligencias' entre o publico americano e o nosso samba, Candido Botelho nos respondeu:

- Isto é facil de se entender. É só pensar um minuto. O panorama da musica popular nos Estados Unidos é: na base encontram-se suas danças, o Fox, o Swing etc. Depois, vêm as estrangeiras, já enraizadas, com a velha Valsa. A seguir aparece o Tango e, mais recentemente, a invasão das avassaladoras 'Latin dances', que para eles são a Rumba e a Conga. Agora, porém, está grassando o 'Son', que é uma Rumba mais lenta.'

A Rumba e a Conga, todavia, são apresentadas por duas ou três orquestras líderes, como Xavier Cugat, Vincent Lopes etc., que se apresentam nos grandes hoteis, gravam uma enormidade de discos e atuam no 'broadcasting'. Além disso, todas as orquestras americanas têm agora um tocador de maracas e um cantor de rumbas, que imitam os conjuntos 'leaders' o melhor que lhes permitem as suas possibilidades, encontrando com facilidade musicos cubanos e portorriquenhos, já com os papéis em ordem [documentação imigratória resolvida] e podendo tocar nos Estados Unidos. Essas coisas todas fazem com que a Rumba e a Conga sejam ouvidas intensa e contínuamente.

O grosso do público, que já aprendeu as 'Latin dances', está muito satisfeito com os seus ritmos. Se alguem lhe falar em Samba, ele não sabe o que isso significa, e se por curiosidade ele quiser ouvi-lo ou dança-lo tem de procurar o Copacabana, um night-club onde o pianista brasileiro Marti, ajudado por Fernando Alvarez e Juanita Juarez, de vez em quando, tocam e cantam um Samba, misturados com dezenas de Rumbas e Congas. E assim mesmo, fazem muito, principalmente Fernando Alvarez, que se desdobra com as americanas. E como uma andorinha só não faz verão, o grosso do público continua na mais completa ignorância do que seja o nosso Samba.

DE COMO O SAMBA PODE TORNAR-SE CONHECIDO NOS ESTADOS UNIDOS

Forçando um esclarecimento sobre esse ponto, perguntamos: 'E de que maneira o Samba pode romper esse 'bloqueio'?

- Essa situação só terá possiblidade de mudar quando uma grande orquestra tocar, sistematicamente e bem o nosso Samba. E isso é dificil porque os americanos não conhecem o ritmo da nossa musica, os cubanos o deturpam e não têm interesse em arranjar um rival para a musica deles. Brasileiros em qualidade e número suficiente não existem lá. Para mandar daqui torna-se mais difícil ainda, pois a Ordem dos Músicos [Union] não permite que os colegas estrangeiros exerçam a sua atividade. Enfim, não é impossível, mas dificílimo.

Em síntese e sem vaidade: nós, os solistas, estamos abrindo o caminho. Para que isso se aproveite é necessario, entretanto, que os nossos melhores conjuntos musicais nos sigam e é o que até agroa não se deu.


O CONCEITO E O INTERESSE QUE OS SUL-AMERICANOS DESPERTAM

- Por motivos políticos e econômicos - prossegue Candido Botelho - os Estados Unidos voltaram suas vistas para a America do Sul nos ultimos anos. Os sul-americanos e as coisas daqui estão, portanto, em moda; em franca evidência.

A ignorância e indiferença dos primeiros tempos, quase que desapareceram. Já existe gostos pelas nossas coisas e até um certo 'exagêro' quanto às nossas belezas e riquezas. Somos o reino da fartura , onde todas as mulheres são bonitas e todos os homens românticos.

Entretanto, 'South America' para eles é a 'Latin America', onde se fala 'Spanish' e onde se dança Rumba e Conga. Nós, os brasileiros , temos de explicar contínuamente que o Brasil é maior que os Estados Unidos, com 45 milhões de habitantes que falam o português e que dançam o Samba. Essas noções, porém, já se vão espalhando pelas revistas, cinemas etc. e dentro em pouco serão corriqueiras.

New York 1939 - 1940.
Pavilhão do Brasil na New York World's Fair projetado por Lucio Costa & Oscar Neimeyer - 1939.
Modernist Brazilian Pavillion was the darling of the World's Fair.

COMO OS EMPRESÁRIOS YANKEES RECEBEM OS NOSSOS ARTISTAS

A essa nossa pergunta, disse-nos o simpático artista:

- É como em toda parte e para com todo o mundo. Artista com possibilidades e que sabe se impôr é bem recebido, sendo que no momento só o fato de ser sul-americanlo já é uma ótima recomendação.

A ADAPTAÇÃO AO CLIMA

Os Estados Unidos têm, naturalmente, varios climas, dependendo da zona. Eu, que não saí da costa do Atlântico, só conheci New York, Washington e Boston. Aí as mudanças são grandes. No verão faz muito calor e no inverno faz muito frio. Frio acompanhado de vento e tempestade. Entretando, o ar-condicionado e o aquecimento-central temperam as coisas. Em sete meses, cantando continuadamente, só tive um resfriado. Mas disso ninguem se livra, nem mesmo no nosso tropical Rio de Janeiro.


A SITUAÇÃO DO BANDO DA LUA

- Você me pergunta por que eles não aperecem sosinhos e por que são chamados de Miranda Boys? É simples. Primeiramente esclarecerei que sempre me desencontrei do Bando da Lua. Quando cheguei à New York eles estavam de viagem para cá. Quando voltaram, foram para Chicago, enquanto que eu continuei na Broadway. Portanto, não os vi trabalhar. Nem o Bando da Lua, nem a Carmen Miranda.

Se eles aparecem só com a Carmen será por motivos econômicos. A Pequena Notável é um enorme cartaz, dando assim melhor resultado trabalhar exclusivamente com ela. Ou então é alguma dificuldade com a Ordem dos Músicos.

Musico nos Estados Unidos não toca sem pertencer ao Sindicato [Union]. Para isso, ha inúmeras dificuldades, inclusive o de entrar-se com os primeiros papéis [documentos] para obter a cidadania americana. Estrangeiro não-residente nos Estados Unidos não entra no Sindicato [Union]. Não entrando no Sindicato, não toca. Aliás, esta é uma das grandes dificuldades que o Samba encontra. Romeu Silva e sua Orquestra, por exemplo, apesar de terem inúmeras ofertas, não puderam tocar fora do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de New York.

Quanto ao nome de Miranda Boys é com certeza por ser mais facil. Havendo grande publicidade para o nome de Carmen, é infitintamente mais fácil dizer Miranda Boys. O americano é duro para linguas e mais ainda para nomes. Já faz muito em aprender um nome. O que indiscutivelmente é certo, é que eles ajudaram muitíssimo a Carmen. E é mesmo lícito perguntar: Sem eles teria Carmen Miranda vencido de início?!

Candido Botelho

BUENOS AIRES NAS PROXIMAS FÉRIAS

Candido Botelho, que atualmente se apresenta todas as noites no show do Cassino da Urca e no Tennis de Petrópolis, tem tempo suficiente para duas vezes por semana, quartas e sábados, estar em contacto com os radio-ouvintes de todo Brasil, através do microfone da Radio Tupi do Rio de Janeiro.

Da sua primeira audição na PRG-3, destacam-se as ultimas novidades americanas e uma serie de melodias brasileiras, de autoria de Sivan, Gentil Puget e Assis Valente.

Para encerrarmos a nossa palestra, perguntamos a Candido Botelho:

- E agora, quando voltaremos a ver o seu nome no cartaz luminoso da Broadway?

- Para as proximas férias tenho uma sedutora proposta para Buenos Aires. Se conseguir uma licença maior, pode escrever, com certeza, que irei abraçar novamente os filhos do Tio Sam.

Reportagem de Julio Pires
revista Carioca de 12 Abril 1941.


biografia de Candido Botelho.

Comentário

Candido Botelho, em 1941, já tinha sacado toda a 'questão brasileira' nos Estados Unidos. Os brasileiros sempre tiveram um complexo-de-inferioridade em relação aos norte-americanos de cultura anglo-germânica. Os brasileiros sempre se ressentiram de serem 'confundidos' com o resto da America Latina, achando que falar o português seria uma 'vantagem' acima do espanhol. Na realidade, para um ouvido anglo-saxão, o português e o espanhol seriam a mesma coisa, pois afinal são línguas latinas, e bem parecidas. O brasileiro nunca se conformou em ser jogado no 'mesmo balaio-de-gatos'' que seus 'hermanos' latino-americanos, mas a verdade nua e crua é que, realmente, não somos melhores que ninguém. Pior ainda, o brasileiro, está num patamar abaixo que cubanos, portorriquenhos ou argentinos, pois não têm números suficientes morando lá na terra do Tio Sam para tocar seu ritmo nativo, o Samba, que na verdade não é de origem ibérica mas vindo da Africa junto com os sofridos escravos.

Candido Botelho, em 1941 já tinha sacado todas essas nuances, e conta suas impressões com exclusividade à revista Carioca. Leia com atenção para não ficarmos mais 60 anos chafurdando na mesma 'ladainha' de que nós, os brazucas, somos melhores que os 'cucarachas'. O racismo e esnobimsmo brasileiro é de um ridículo sem par, o que prova que o grande prejudicado somos nós mesmos, que nos recusamos a nos ohar no espelho e ver nossa verdadeira imagem refletida: somos iguais ou talvez um pouco pior que o resto da America Latina, pois a soberba e a prepotência nos tornam inferiores aos nossos alegres irmãos latinos.

Aquarela do Brasil

Aracy Cortes foi quem cantou primeiro 'Aquarela do Brasil', em 10 de junho 1939, na estréia da revista 'Entra na Faixa. Um mês depois, Botelho a cantou em 'Joujoux e Balangandãs' um concerto beneficente promovido por Darcy Vargas, primeira-dama do Brasil. Francisco Alves, finalmente a gravou para a Odeon, em agosto de 1939, com arranjo de Radamés Gnattali. Mas 'Brazil' só fez sucesso a partir de 1942, depois que Walt Disney a incluiu em 'Saludos amigos'.

Na gravação de Chico Alves, ele cantou 'risoneiro' invés de 'izoneiro', pois não entendeu a letra de Ary Barroso.

CÂNDIDO BOTELHO little biography 

Cândido Botelho, an educated chamber singer and a Villa-Lobos favorite was a pop music singer.

Botelho recorded his first disc in 1929, with "Canção da Felicidade" and "Canção do Violeiro." That same year, he performed at Gaveau Hall in Paris, France, during the Brazilian Week.

His most popular recordings in the '30s were embolada "Passarinho Verde" and Carlos Gomes' "Quem Sabe" and "Conselhos"  and Mario de Andrade's  "Viola Quebrada".

He performed regularly at the Radio Cruzeiro do Sul and Radio Kosmos in São Paulo.

In 1937, Botelho was hired by Radio Nacional and moved to Rio de Janeiro. 
In 1938 Botelho appeared as an actor in the movie 'Maridinho de Luxo'. His biggest hit was Ary Barroso's "Canta Maria".
He was only the 2nd person to sing Ary Barroso's 'Brazil' [ "Aquarela do Brasil"] in 1939 Henrique Pongetti's musical-reveu  'Joujoux et Balangandans' .
In 1940, Botelho performed at Cassino da Urca, alongside with Aurora Miranda, Grande Otelo and others. 

In June 1940, Botelho went to New York to be part of the Brazilian troupe at the Brazilian Pavillion in the World's Fair. He performed on Broadway and sang at many NBC broadcastings up to 1941.
Returning from the U.S. in 1941, Botelho went to Buenos Aires where he took part in the Brazilian government-sponsored cultural program 'Hora do Brasil', at Radio Municipal with Radamés Gnattali and his orchestra.

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