Tuesday, 31 July 2012

Dora Lopes in Mexico in 1953

Dora Lopes started singing at Ary Barroso's famous radio gong-show in the 1940s, so one could say the great song-writer-musician-cum-radio-announcer knew her since she first stepped on the radio-station auditorium stage to sing the tune of her choice, Bororó's 'Da cor do pecado'. Dora stood there shaking and Ary told her: 'Don't be afraid of the microphone! It doesn't bite!' Dora was obviously not afraid of the microphone but of Mr. Barroso who was really blunt and strict with the contestants in his show and would not forgive anyone out of tune or out of rhythm. 

Ary Barroso obviously knew who he was dealing with when he invited Dora Lopes in 1953 to be one of the crooners of his orchestra that would go on a tour of Venezuela and Mexico. Ary hastily assembled an orchestra that initially was going to Cuba and the USA too. Barroso borrowed musicians from both Severino Araujo's Orquestra Tabajara and from conductor Peruzzi's orchestra. 

Here's the story of Ary Barroso's Orchestra with Dora Lopes and Aracy Costa as female crooners in Mexico City where they stayed the longest. They eventually recorded 'Fantasia Carioca', a 10" album that was released by a US record label. 


Dora Lopes é crooner da Orquestra de Ary Barroso na Venezuela e Mexico 


No início de 1953, Ary Barroso excursionou com sua 'orquestra-espetáculo' à Venezuela e Mexico, pretendendo também ir à Cuba e Estados Unidos. Ary emprestou músicos da Orquestra Tabajara, de Severino Araujo e da Orquestra Marajoara, do maestro Peruzzi, entre eles os trompetistas Julinho Barbosa, José Luiz e Geraldo Medeiros; os saxofonistas Paulo Moura, Darcy Barbosa, Bijou e Orfeu; os trombonistas Maciel e Nelsino; além de Alfredo 'Mesquita' de Souza na bateria, Malagutti no baixo, Gaury ao piano e Caramujo no pandeiro.

Além de mais três percussionistas não identificados, Ary levou o cômico Walter Machado, o dançarino  e pandeirista Vieirinha (Manuel Vieira Filho) e os cantores Edson Lopes, Aracy Costa e Dora Lopes.

O repertório foi escolhido antes da viagem e os arranjos musicais foram escritos pelos maestros Severino Araujo, Pernambuco, Morfeu e Zezinho. O programa incluia os números:

1. 'Rio de Janeiro' [Ary Barroso] com a orquestra;
2. 'Terra seca' [Ary Barroso] com Edson Lopes;
3. 'Chamego' com Dora Lopes;
4. 'Boneca de pixe' [Ary Barroso-Luiz Iglesias] com Aracy Costa & Vieirinha;
5. 'Na Baixa do Sapateiro' [Ary Barroso] com Edson Lopes;
6. 'Granada' [Agustin Lara] com a Orquestra;
7. 'Sinfonia Carioca' com Edson Lopes;
8.  'Frevo' com Vieirinha e Orquestra;
9. 'Macumba' com Dora Lopes & Vieirinha;
10. 'Aquarela do Brasil' [Ary Barroso] com Edson Lopes;

11. 'Maria La O' [Ernesto Lecuona] com a Orquestra;
12. 'Copacabana' [João de Barro-Alberto Ribeiro] com Aracy Costa;
13. 'No tabuleiro da bahiana' [Ary Barroso] com a Orquestra;
14. 'Divagando' [Ary Barroso] com Ary e percussão;
15. 'Alma llanera' [Pedro Elias Gutiérrez] Ary ao piano e Orquestra;
16. 'Risque' [Ary Barroso] com Dora Lopes;
17. 'Ocultei' (Que Deus me perdoe) [Ary Barroso] com Ary & Orquestra;
18. 'Sambando na gafieira' [Ary Barroso] com Orquestra;
19. 'El baiao del Pinguino' [Alfredo 'Mesquita' de Souza] com a Orquestra;
20. 'Rapsódia Carnavalesca' [Ary Barroso] com a Orquestra e Todos.



Dora Lopes e Edson Lopes [nenhum parentesco] em foto promocional tirada em frente ao Pão-de-Açucar para a tournee que a Orquestra de Ary Barroso faria pela Venezuela e Mexico em 1953.


Aracy Costa & Dora Lopes interpretam 'Boneca de pixe' na cidade do Mexico. Esse numero era geralmente feito por Aracy & Vieirinha, pois afinal é um ato onde deve existir um homem e uma mulher. Não se sabe o que aconteceu nessa ocasião para que Dora tomasse o lugar de Vieirinha. Nota-se que Dora veste calças compridas, mas não está caracterizada de 'homem' inteiramente. 


partitura de 'Boneca de pixe' de Ary Barroso e letra de Luiz Iglezias.


Dora Lopes se destaca junto do bailarino e percussionista Vieirinha e a Orquestra de Ary Barroso no Mexico.


saxofonistas, pistonistas, trombonistas, bateria, 4 crooners... e Ary Barroso sorrindo para as câmeras.


final apoteótico do 1o. acto da 'Revista Brasil' no Mexico - 1953.

Na Cidade do Mexico, a Orquestra de Ary Barroso tocou em radio, no night-club Versailles e numa série sensacional de shows diários no Teatro Lírico, onde espetáculos paralelos eram apresentados pela orquestra de Agustin Lara numa verdadeira guerra de big-bands. Parece que nem Agustin ou Ary sabiam conduzir eficientemente, mas ninguém se importava com esse pormenor.

Tudo ia indo maravilhosamente quando os empresários da excursão, o chileno Florencio Contreras e o argentino Cesar Luchetti fugiram com todo o dinheiro arrecadado, deixando Ary e sua troupè a ver navios. Felizmente, a temporada no Teatro Lírico foi estendida e a Orquestra foi convidada para novas apresentações em várias estações de radio e night-clubs compensando assim um pouco o dinheiro surrupiado.

As artimanhas dos ladinos empresários não foram as únicas agruras e decepções sofridas por Ary nessa viagem. Havia planos de se rodar 4 filmes na capital mexicana, cuja indústria cinematográfica era a maior da America Latina, mas eles foram pegos no meio de uma greve de técnicos e músicos. Enquanto a Orquestra estava na capital mexicana, Ary recebeu propostas para apresentações em Los Angeles, Bogotá, Lima, Santiago e Buenos Aires, mas nada se concretizou.

Houve, sim, a gravação de um álbum da Orquestra de Ary Barroso na Cidade do Mexico, chamado 'Fantasia Carioca', que foi recentemente descoberto e postado na Internet como 'o LP que ficou 50 anos desaparecido', já que somente duas pessoas tem propriedade deles. Nele, Dora Lopes canta 'Risque', que fazia sucesso no Mexico com o título de 'Borre mi nombre de tu caderno' [Risque meu nome do seu caderno]. 

Para saber mais sobre a peripécia do descobrimento dessa preciosidade, entre nesse link:

http://daniellathompson.com/Texts/Ary_Barroso/Fantasia_Carioca.htm

A maior parte das informações sobre a tournee da Orquestra de Ary Barroso ao Mexico e Venezuela veio do livro 'No tempo de Ari Barroso' [sic] escrito por Sergio Cabral e lançado pela Lumiar Editora em 1993. 



1953 - Fantasia Carioca - Sambas Baiaos - Ary Barroso & His Orchestra - Musart LPD 94 - gravado no Mexico em 1953

1. Instrumentos brasileiros - demonstração de percussão
2. Maria La O [Ernesto Lecuona]  - Orquestra
3. Copacabana [João de Barro-Alberto Ribeiro] Aracy Costa
4. Aquarela do Brasil [Ary Barroso] - Orquestra
5. No tabuleiro da bahiana [Ary Barroso] - Orquestra
6. Divagando [Ary Barroso] - Ary & percussão
7. Granada [Agustin Lara] - Orquestra

1. Alma llanera [Pedro Elias Gutiérrez] piano & orquestra
2. Na Baixa do Sapateiro [Ary Barroso] - Edson Lopes
3. Risque [Ary Barroso] - Dora Lopes
4. Que Deus me perdoe - Ocultei [Ary Barroso] - Ary & percussão
5. Sambando na gafieira [Ary Barroso] - Ary & percussão
6. El baiao del Pinguino [Alfredo 'Mesquita' de Souza] - Ary & percussão


Although the complete Ary Barroso discography remais unpublished, the most authoritative source available on the composer is Sergio Cabral's biography 'No tempo de Ary Barroso' [Rio de Janeiro, Lumiar Editora, 1993].

There, on page 301, one learns that in the spring and summer of 1953, Ary took an 'orquestra de espetáculo' on tour to Venezuela and Mexico, intending to add Cuba and the US to the itinerary. For his tour band, the composer borrowed musicians from Severino Araujo's Orquestra Tabajara and Peruzzi's Orquestra Marajoara, including in the roster Julio 'Julinho' Barbosa, José Luiz and Geraldo Medeiros [trumpets], Paulo Moura, Darcy Barbosa, Bijou and Orfeu [saxophones]; Maciel and Nelsinho [trombones]; Alfredo 'Mesquitinha' de Souza [drums]; Malagutti [bass]; Gauri [piano]; and Caramujo [pandeiro]. 

In addition, there were 3 unnamed percussionists, the comic Walter Machado, the dancer Vieirinha [Manuel Vieira Filho] and singers Edson LopesAracy Costa and Dora Lopes. If these vocalists have ever recorded an Ary Barroso song before or after the tour, I haven't been able to locate such recording. Dora Lopes, who was a gifted songwriter as well as spirited samba singer, was 'discovered' in Ary's radio talent show in 1949.

Of Ary's own 7 compositions, 'Aquarela do Brasil' is presented by the Orchestra alone, 'Na Baixa do Sapateiro' by Edson Lopes and orchestra, and 'Risque' by Dora Lopes and orchestra. 'Risque' was a big hit in Mexico under the title 'Borre mi nombre de su caderno', and the vocal rendition in 'Fantasia Carioca' includes a final refrain in Spanish. 

The singers' renditions tend towards bombast, a style destined to become passé just a few years later, when João Gilberto would kill it off with a subtle yet swift blow. The orchestral style is expansive and danceable, vey much of the period.

para ler mais sobre o assunto: 

http://daniellathompson.com/Texts/Ary_Barroso/Ary_in_Argentina.htm


Note:  Unfortunately, we know very little about Dora Lopes' escapades during the 1953 Mexican tour. It is generally known that Dora had a love affair with Aracy Costa, the other female singer in the band during this period. It is really amazing that Dora had actually the chance to play the male part in the rendition of 'Boneca de pixe' (Pitch doll) with Aracy playing the doll's part in some of the band's performances. It must have been such a gas and highly camp for those in the know! Vieirinha the male dancer who usually played the male part must have been sick when the photographer took the pictures... Dora hardly had the time to cross-dress as one can see looking at the photo.


Aracy Costa no auge de sua carreira.



A excursão da Orquestra de Ary Barroso ao México  não foi um mar de rosas... houve muita sacanagem por parte dos empresários mexicanos que não quiseram pagar os shows. Aqui há várias reportagens da Revista do Rádio sobre a gatunice dos mexicanos.


Trecho de matéria intitulada 'Os noivos do rádio', publicada no jornal 'Luta Democrática' de 20 Junho 1954.




Revista do Rádio 14 Julho 1953. 







Pedro Vargas cantava 'Risque' com Dora Lopes nas apresentações do espetáculo na Ciudad de México.



Dora Lopes não se faz de rogada e manda ver!

Monday, 30 July 2012

Dora Lopes - Discografia

Dora Lopes had a fairly long recording career. Her first 78 rpm single was released by Star Records in 1948; three year later she recorded a Carmen Miranda-like 'Mister Tico Tico' for Rio Records; then she went to Sinter Records for 3 years, movin on to Continental Discos for 2 years; then she signed with Mocambo for 4 years where she recorded her seminal album 'Enciclopédia da Gíria'. As of 1962 Dora Lopes  signed with Copacabana Records where she had thegreatest hit of her career 'Samba da madrugada', a lot of singles and an album.   


1948

A. Volta p'ro teu barracão          [Star]
B. Roubei o Guarani

1951

A. Mister Tico-tico (Luiz Guilherme-Walter Teixeira)   [Rio]
B. A cigana errou (Ramiro Guará-Julinho)

1951 Outubro

A. Cao cambieci - batuque (Anisio Bichara-Luiz Soberano)  [Sinter]
B. Inclemência - samba-canção (Armando Cavalcanti)

1952  Janeiro

A. Nasci cansado - samba (Henrique Alves-Wilson Baptista)  Sinter n. 101
B. Vou me acabar - samba (Henrique Alves-Armando Cavalcanti)

A. Moço direito (Anisio Bichara-Luiz Soberano)  [Sinter]
B. Vou beber (Luiz Soberano-Anisio Bichara)

1953  Janeiro

A. Me abandona - samba (Sávio Barcellos-Aylce Chaves-Paulo Marques)  Sinter n.181
B. Lei da razão - samba  (Blecaute-Rubens Silva)

A. Homem não chora por mulher (Victor Simon-José Roy) com Trio Nagô   Sinter n. 197
B.. Projeto 1000 (Projeto Mil) (Assis Valente-Salvador Miceli) Dora Lopes com Trio Nagô

1953 Abril

A. Baralho da vida (Ulisses De Oliveira*)   [Sinter]
B. Você morreu p'ra mim (Newton Mendonça-Fernando Lobo)

* Ulisses de Oliveira foi baterista da Leopoldina Orquestra.

1954  Janeiro

A. Toma cachaça (Índio Do Brasil-Darcy Viana)      [Sinter]
B. Pegando fogo (Humberto de Carvalho-Edu Rocha-J. Piedade)

1954

A. És nada, ninguém (Clóvis Santos)
2. Convento (Carmen Costa-Mirabeau)

1955  Junho

A. Toda só (Hianto de Almeida)     [Continental]
B. Tenho pena da noite (Catulo de Paula-Marino Pinto)

1955 Dezembro

A. Homem leão (Brasinha-Haroldo Lobo)    [Continental]
B. Faca de ponta (Ivan Campos-Celso Albuquerque-Peterpan)

1956  Julho

A. Samba não é brinquedo (Luiz Bonfá-Tom Jobim)  [Continental]
B. Tanto faz (Ary Monteiro-Luiz Antônio)

1957  Janeiro

A. Maria Navalha (Manoel Casanova-Jorge de Castro-Inácio Heleno)  [Mocambo]
B. Ina... Ina... (Dora Lopes-Ary Monteiro)

1957

1. Fila do gargarejo (Dora Lopes-José Batista-Nilo Viana)   [Mocambo]
2. Samba borocochô (Manoel Casanova-Inácio Heleno-Jorge de Castro)

1958

1. Tuninho (Antônio Bruno)      [Mocambo]
2. Tu me acostumaste [Tu me acostubraste] (Carlos Brandão-Frank Dominguez)

1958

A. Marcha da pimenta (Dora Lopes-Luiz Wanderley-Renato Araújo)    [Mocambo]
B. O gingador (Geraldo Serafim-Erasmo Silva)

1961

A. Falso cabrito (Dora Lopes-Franco Ferreira)     [Mocambo]
B. Tostão não tem troco (Dora Lopes)

1962

A. Nós dois sabemos (Mário Cavagnaro; versão: Othon Russo)   [Copacabana]
2. Samba da madrugada (Dora Lopes-Herotides-Carminha Mascarenhas)

1963  Janeiro

A. Mulher de bebo (Dora Lopes-Arildo Souza-Renato Araújo)   [Copacabana]
B. Fica comigo (Emilinha Borba-Rubem Gerardi-Edna)

1963

A. Tortura de amor (Waldick Soriano)    Copacabana
B. Estrela boêmia (Dora Lopes-Jorge Lopes)

1964

A. Vou lhe matando devagar (Dora Lopes-Renato Araújo)  Copacabana
B. Marrai Marrai (Santos Garcia-M. Gomes)

1965

A. Dúvida cruel (Dora Lopes-Luiz de Carvalho-Genival Melo)  Copacabana - 0409 (Carnaval)
B. Cheque visado (Edna Guedes-Santos Rodrigues)



Duvida cruel

Arranjei um namorado
que me deu muita alegria
mas no final eu não sabia
se era João ou se era Maria 

se for João eu vou casar
se for Maria vai ter que me chutar
Gol!

marcha de Dora Lopes, Luiz de Carvalho e Genival Melo
gravação de Dora Lopes para o Carnaval de 1965.

1971  (Carnaval)   gravadora Ebrau 33-001

A. O sereno cai  (batucada) (Antoninho Lopes-Doca-Inês de Castro) lado B, faixa 8
B. A marcha do Zé (Oscar Gomes Cardim-Celso Teixeira-Dora Lopes) lado A, faixa 4

compacto-simples

1. Chega de lero-lero (É teleco-teco que eu quero) (João Roberto Kelly)
2. Dor de cotovelo (João Roberto Kelly)

                                              compactos-duplos de Dora Lopes

'Eu sou a madrugada' 1962 - Copacabana
'Desamparada' 1964 - Copacabana. 
compacto-duplo da Continental de 1971, contendo 'Você mudou demais', com Claudia Barroso e 'Estourou no Norte' de e com Dora Lopes.

                                           Dora Lopes, a 'loura atômica', em foto promocional da Sinter - 1953.

LONG-PLAYS - ALBUNS



1953 - Fantasia Carioca - Sambas Baiaos - Ary Barroso & His Orchestra - Musart LPD 94 - gravado no Mexico em 1953

1. Instrumentos brasileiros - demonstração de percussão
2. Maria La O [Ernesto Lecuona]  - Orquestra
3. Copacabana [João de Barro-Alberto Ribeiro] Aracy Costa
4. Aquarela do Brasil [Ary Barroso] - Orquestra
5. No tabuleiro da bahiana [Ary Barroso] - Orquestra
6. Divagando [Ary Barroso] - Ary & percussão
7. Granada [Agustin Lara] - Orquestra

1. Alma llanera [Pedro Elias Gutiérrez] piano & orquestra
2. Na Baixa do Sapateiro [Ary Barroso] - Edson Lopes
3. Risque [Ary Barroso] - Dora Lopes
4. Que Deus me perdoe - Ocultei [Ary Barroso] - Ary & percussão
5. Sambando na gafieira [Ary Barroso] - Ary & percussão
6. El baiao del Pinguino [Alfredo 'Mesquita' de Souza] - Ary & percussão

contra-capa de LP gravado no Mexico e lançado também nos U.S.A. 

Dora Lopes aparece como cantora de 'Risque' em 10" lançado no Uruguay.
no lado B a gravadora uruguaya Orfeo errou no selo e diz que Dora Lopes canta 'Copacabana', mas quem a canta é Aracy Costa.



        capa original de 'Enciclopédia da Gíria', LP de Dora Lopes lançado em 1957 pela Mocambo. 


1957 - Enciclopédia da gíria [Mocambo]

1. Dicionário da Gíria (Dora Lopes / César Cruz)
2. Bom mulato (Zeca do Pandeiro / Ary Monteiro)
3. Engolobada (Zeca do Pandeiro / Geraldo Serafim)
4. Banca de brabo (Dora Lopes / Franco Ferreira)
5. Galã continental (Dora Lopes / Franco Ferreira)
6. Nega Odete (Aldacir Louro / Dora Lopes)

1. Falso cabrito (Dora Lopes / Franco Ferreira)
2. Conversando na gíria (Zeca do Pandeiro / Arthur Montenegro)
3. Tostão não tem troco (Dora Lopes)
4. Baiuca do Leleco (Dora Lopes / Zeca do Pandeiro)
5. Diploma de otário (Dora Lopes / Ary Monteiro)
6. Ninando Muriçoca (Ary Monteiro / Zeca do Pandeiro)


Raramente lembrada entre as cantoras-autoras da MPB, a carioca Dora Lopes de Freitas teve prestígio nos anos 1950s e emplacou alguns sucessos como 'Toalha de mesa', Ponto de encontro' e 'Samba da madrugada', além da marcha carnavalesca 'Pó de mico' ['Vem cá, seu guarda, bota p'ra fora esse moço, que está no salão brincando com pó-de-mico no bolso']. Nos anos 1970s Dora participou do Programa Raul Gil como jurada.

Em seu disco 'Testamento' [1974], como um Nelson Cavaquinho-de-saias tematizou a morte e morreu praticamente esquecida [e endividada] em 1983, com 62 anos. Em seus epitáfios jornalísticos ninguém mencionou esse inacreditável album, lançado pela Mocambo em 1957. Dora teria que ser incluída entre os primeiros militantes da bossa nova, principalmente pela faixa 'Tostão não é trôco'. De arquitetura dissonante, costura de violão, um breve 'scat' e quebrada rítmica típica, a letra e musica da cantora dispara: 'Você é quadrado / você não casa com meu sincopado / você é todo na pauta / eu sou improviso / eu sou bossa nova / você é muito implicante / o meu beijo é dissonante'. Além disso, na faixa título ela também injeta 'bossa nova' no 'Dicionário da Gíria'.

No mais, o repertório diferenciado inclui compositores obscuros como Ary Monteiro, Cesar Cruz, Zeca do Pandeiro, Arthur Montenegro, Franco Ferreira e o único razoavelmente conhecido, Aldacyr Louro traz o requebro dos sambas-de-gafieira recheados de gírias da época.

'Manéra a raça e joga recuado / tenteia que afobado come crú / vai ao local do desacerto e diz a umas e outras...' aconselha 'Bom mulato'.

'Micha essa banca de galã continental / você não é batom p'ra estar em tudo que é boca''... cobra 'Galã continental'.

Em 'Falso cabrito', a abertura é um boogie-woogie cortado pela cantora irada: 'Neca de transviado, neca de rock'n'roll, isso tudo é de araque / o negócio é teleco-teco...' e engata um samba onde um certo Arnaldo é criticado por andar atrás de ninfetas; 'Quem gosta de broto é cabrito...' manda Dora com sua voz rasgada.

Na 'Baiúca do Leleco', quem faz gracinha 'leva um téco'. Ela confere a outro personagem o 'Diploma de Otário':  'No seu bolso falta sempre 90 centavos p'ra um cruzeiro...'  Já em 'Conversando na gíria' demanda 'Uns e outros não gostam da sua chinfra / pode ser mão de cinza / aperta seu passo, major / vá lá na muvuca / faz a pedida na hora maior'... Demorô, malandro?

texto de Tarik de Souza.


'Minhas músicas e eu', LP de Dora Lopes pela Copacabana. Irônicamente, Dora aos 40 anos de idade, têve seu maior sucesso discográfico: 'Samba da madrugada' (que foi seu maior sucesso discográfico mas não está incluída nesse album). 

1963 - Minhas músicas e eu  [Copacabana]

1. Dona Solidão (Dora Lopes-José Di)
2. Ambiente diferente (Dora Lopes-N. Ramos)
3. Recalque noturno (Eu sou a madrugada) (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
4. Canção do que você é (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
5. Dúvida (Dora Lopes / Zairo Marinoso)
6. Pintura manchada (Dora Lopes-Zairo Marinoso)

1. Meu alguém (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
2. Com Dolores no céu (Dora Lopes-Jorge Lopes)
3. Meu samba triste (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
4. Se arranca que vem chuva (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
5. Lavadeira tem filho doutor (Dora Lopes-Zairo Marinoso)
6. Madrugada zero hora (Dora Lopes-Genival Melo)

Dora Lopes escreve o texto na contra-capa de seu LP 'Minhas Músicas e Eu':

Viver... Sonhar um pouco... Amar... Compor... Ter alegrias... Decepções ... Dirigir meu carro em alta velocidade... Ver e ouvir confidências noturnas em meu Bar, é bem mais fácil do que escrever alguma coisa sôbre 'algo' onde nós temos atuação direta. É o caso presente. Mas, como dizem por aí, o artista é 'pau p'ra toda obra'. Portanto... 

Vocês, meus amigos, disc jockeys, cronistas, colegas de Rádio nas diversas funções, você querido público discófilo que penetraram em minha sensibilidade em 'Samba da madrugada', sabem, naturalmente, que tôda pessoa alimenta desde os primeiros anos de vida o seu 'sonho' particular de um dia realizar-se. Pois bem, todo artista alimenta também em sua carreira, um sonho que muitas vêzes leva anos até acontecer. Meu sonho aconteceu: 'Minhas músicas e eu' e, neste instante entrego à apreciação de todos vocês o meu trabalho; tudo aquilo que de melhor sempre desejei fazer dentro das minhas possibilidades artísticas, é claro. Se tiver a felicidade de transmitir a todos vocês tudo aquilo que senti ao compor minhas músicas, procurando vivê-las, arrancando bem do fundo de minh'alma tôda interpretação para cantá-las  - confesso de todo coração - estarei plenamente realizada. 

Agora devo confessar a vocês, que desde o início da minha carreira eu já admirava os 'motivos' que minha amiga, a saudosa e eterna Dolores Duran, encontrava para compor suas músicas. Eu sei que quase sempre ela vivia tudo aquilo que colocava no papel. Mas, falar sôbre Dolores seria necessário para mim um livro sem limites de páginas. Quero que vocês saibam que foi ela quem me fêz crer que eu, um dia, poderia ser uma artista realizada, e foi em homenagem a ela que compuz o samba 'Com Dolores no céu' (de parceria com meu mano Jorge Lopes), que vocês irão adorar. 

Vocês, naturalmente, querem saber qual das músicas aqui gravadas leva a minha predileção; pois bem: 'Recalque noturno', onde tentei definir a meu modo, a manhã, a tarde, a noite e a madrugada onde vivo, é a minha favorita. E por falar em madrugada, 'Madrugada zero hora', que fiz com meu grande amigo Genival Melo, é uma das boas faixas do LP, partindo do princípio de que sinto-me bem à vontade. Uma das minhas últimas composições é 'Canção do que você é', que fiz também de parceria com o Zairo, onde entramos no ritmo-prelúdio. Em 'Meu samba triste' e 'Dona Solidão', tive a honra de ser acompanhada pelo Rei do Orgão, que é Steve Bernard. Na música 'Dona Solidão', que fiz com José Di, meu novo parceiro e amigo, vocês poderão observar no acompanhamento, um 'pequeno' grandioso conjunto que é formado por Steve Bernard ao orgão, Marinho no contra-baixo e Zairo Marinoso ao violão e, como aconteceu em todas as outras faixas, cuidei do ritmo executando pandeiro, fazendo batuque etc. Há também a música que fiz de parceria com N. Ramos (que deseja ficar no anonimato, o que é uma pena, pois trata-se de uma excelente compositora e grande parceira), e que, tenho certeza já tem os seus 'gregos e troianos' quase certos. Refiro-me ao 'Ambiente diferente', que na linguagem usada, possui maior dose de comércio, ou seja, poderá estar mais a gôsto do povo. Aos 'cobras', senhores músicos que participaram comigo destas gravações, deixo ainda mais elevado o meu sincero agradecimento. E... é só. 

Acredito desde já na consideração de vocês todos para com o 'acontecimento' do meu sonho, que compus e cantei, pois só em executarem esse long-playing e, naturalmente, ouvi-lo, já o provam isso. 

N.B.: E se alguém perguntar por mim, diz que estou no 'Dindin', tá?

A mesma... Dora Lopes.


                                                        'Testamento', LP da RGE de 1974

1974 - Testamento     [RGE]

1. Se eu morrer amanhã tá tudo certo (Dora Lopes / Conde Fernete / Jony Santos)
2. Ponto de encontro (Dora Lopes / Clayton Werre)
3. Branco de paz (Dora Lopes / Franko Xavier / Jean Pierre)
4. Oração à Dalva (Dora Lopes / Norberto Pereira / José Costa)
5. Visita permanente (Dora Lopes / Jean Pierre)

1. Homenagem (Dora Lopes)
2. Tomando mais uma (Dora Lopes / Jony Santos / Conde Fernete)
3. Samba da madrugada (Dora Lopes / Carminha Mascarenhas / Herotides Nascimento)
4. Barraco diferente (Dora Lopes / Jorge Rangel / Conde Fernete)
5. Diploma de sambista (Dora Lopes / Jorge Lopes / Marcos Silvestre)
6. Com Dolores no céu (Dora Lopes / Jorge Lopes / Bob Júnior)


Dora Lopes é antes de tudo uma figura humana, extrovertida e amiga. Esse disco foi feito em estudio de gravação reunindo amigos e gravado o que eles fizeram. Não houve ensaio. Somente Dora, o maestro Zezinho e o produtor conheciam as músicas.

Depois de 3 bules de café e 56 cigarros terminaram a primeira das 3 gravações do disco, sendo que a segunda aconteceu 10 dias depois e a terceira dia 15 fevereiro quando o maestro Zezinho acrescentou os arranjos de metais e cordas ao material já gravado para que no dia 10 de março de 1974 ficasse pronto o disco. 

Esses comentários aparecem no site sobre samba-rock:

http://arquivodosambarock.blogspot.com.br/2009/12/dora-lopes-1974-testamento.html


1976 - Esta é Minha Filosofia     Tapecar

1. A palavra amor (Dora Lopes / D. Mendonça)
2. Zona franca (Gilson Harmonia / Joran)
3. Partido alto da Pomba Gira (Dora Lopes / Nereu Gargalo)
4. Chuva de lágrimas (Dora Lopes / Gilson Harmonia)
5. Mão amiga (Dora Lopes / D. Mendonça)
6. Pai Edu (Dora Lopes / Clayton)

1. Novo Endereço (Dora Lopes / Clayton)
2. Colar e boné (Dora Lopes / Gilson Harmonia)
3. Pagode chinez (Dedé da Portela / Sergio Fonseca)
4. Natal em fevereiro (Dora Lopes / Clayton)
5. Filho de fé, bate cabeça (Gilson Harmonia / Joran)
6. A mandinga vai voltar (Dora Lopes / Nereu Gargalo)



PROJETO MIL 

Amendoim torradinho! (tá quentinho!)

O que vai fazer, senhor vereador, pelo meu Brasil?
(pelo meu Brasil)
vê se tira a minha gente dessa corda bamba
do projeto mil
esse tal metrô, senhor vereador,
(não é sopa, não!)
querem ver o carioca igual a minhoca 
batendo cabeça debaixo do chão

Para que tanta beleza 
se a gente da pobreza não consegue apreciar 
quando o povo mal vestido tem que andar sempre escondido
p'ra não dar o que falar 
o menino zombeteiro que é sempre apontado como dono da nação
anda pela Cinelândia abanando o fogareiro p'ra ganhar o pão.

samba de Assis Valente-Salvador Miceli 
canta: Dora Lopes & Trio Nagô
gravação de 1953

ESPECIAL DORA LOPES 1975 - TV Cultura de São Paulo 

Em 1975, a TV Cultura convidou Dora Lopes para gravar um Programa Especial onde ela cantaria 15 músicas entremeadas com falas sobre sua vida e os 25 anos de carreira artística. Aqui está a relação das músicas cantadas por Dora: 

1. Samba da madrugada (maior sucesso discográfico de Dora)
2. Pó de mico (maior sucesso carnavalesco de Dora) 
3. Chão de estrelas (em homenagem a Sylvio Caldas, que frequentava sua casa qdo. ela era criança)
4. Molambo (composição de Meira, do regional do Canhoto) (para homenagear o Roberto Luna) 
5. Da cor do pecado (Bororó) cantou no Programa do Ary Barroso. 
6. Na Baixa do Sapateiro (música de Ary Barroso escolhida para homenageá-lo)
7. Baralho da vida (cantava essa música em São Paulo qdo. soube da morte de seu pai)
8. O Xamego (com pandeiro, para os europeus que não se conformavam de vê-la loira e brasileira) 
9. Tarde gris (tango em homenagem ao pai, espanhol da Ilha das Canárias e a mãe venezuelana) 
10. A noite do meu bem (cantava-a na boite qdo. ouviu dizer que Dolores tinha falecido)
11. Com Dolores no céu (em homenagem a Dolores Duran)
12. Toalha de mesa (gravada por Noite Ilustrada)
13. Samba sem viola (gravada por Djalma Pires) 
14. Ponto de encontro n. 1 (grande sucesso de Célia)
15. Ponto de encontro n. 2



Dora Lopes no Especial MPB da TV Cultura de São Paulo - 1975. 

O Programa Especial, gravado em 1975, que mais tarde passaria a ser chamado de 'Ensaio' mostra uma Dora Lopes positiva, contando casos de sua vida. Muito bem articulada, fumando incessantemente e tendo um conjunto dos melhores acompanhando-a.

Dora começa a contar da época que mudou-se para São Paulo, em 1961. Ela diz: "Larguei apartamento montado no Rio e vim p'ra São Paulo ouvindo uma 'voz maior'. Sentei-me num banco de jardim da Praça Julio Mesquita. Genival Melo apareceu e me perguntou onde eu morava, e eu disse que morava ali mesmo. Ele me levou p'ra Copacabana, onde um produtor disse que 'Dora Lopes já era', embora não se usasse essa expressão ainda. Genival respondeu que gravaria Dora ou sairia da Copacabana Discos. 'Samba da madrugada' ficou em 1o. lugar e um dos discos mais vendidos de 1962. Comecei uma fase ótima em São Paulo, me dando muito bem com as boites.

Depois eu tive aquele desastre medonho. Fiquei 6 meses sem reconhecer as pessoas, não sabendo onde eu estava, depois começando da estaca zero. 

Por volta de 1973, gravei com Milena, uma musica. Sebastião Ferreira da Silva, da Radio Nacional paulista me disse:  "Você tem que vir definitivamente para São Paulo".  E aqui começou essa nova ótima fase minha. 

Nasci no Rio de Janeiro, na Rua do Resende, no centro, muito comercio. Morava na casa no. 1 de uma vilazinha. Meus irmãos eram Nelson (falecido, cantor do tempo do Sylvio Caldas e Orlando Silva), Waldemar, Jorge (compositor) e Gilberto Lopes. Sylvio Caldas frequentava nossa casa e sofreu muito com a morte de meus pais, que morreram com uma diferença de 14 dias.

Quando menina eu era fã da Dyrcinha Baptista, sensacional. Sensacional é uma palavra usada e abusada por Dora Lopes.

Cauby Peixoto, Roberto Luna e Nelson Gonçalves são cantores que amo loucamente. 

Eu era uma 'vendeuse' numa casa de modas do Rio de Janeiro, muito contra a vontade de meu pai. Eu queria era cantar. Meu pai queria que eu fizesse medicina, mas eu nunca dei para isso. Um dia, dei uma desculpa que não estava bem, dei uma fugida da loja e me inscrevi no Programa do Ary Barroso. Eu tremia feito vara verde. Botei meu nome de Sylvinha Barreto p'ra minha familia não saber que estava cantando no radio. Quando Ary me deu nota 5 eu quase desmaiei. Logo em seguida entra um homem no palco com uma braçada de rosas para me entregar... era Francisco Alves. A Aracy de Almeida também estava lá. 

Tenho uma filha de 11 anos, e tenho loucura por ela. Mas minhas músicas são quase igual a filhos.

Encontrei-em um dia com o Bororó, aquela satisfação enorme:  ele disse que não conhecia nada que eu tinha feito, mas eu não me ofendi. Foi com 'Da cor do pecado' de Bororó, que eu venci no programa do Ary Barroso. 

Assim que gravei meu 1o. disco 'Baralho da vida', fui com a orquestra de Ary Barroso para o Mexico. Eu loura, de pandeiro na mão, cantando samba. Os jornais mexicanos falava mal da gente. Era o Agustin Lara fazendo nossa caveira, não querendo concorrência. Pedro Vargas, no entanto foi sensacional; eu cantava 'Risque' com ele. Tonia La Negra e Pedro Vargas começavam o show e depois entrávamos nós. Foi um sucesso. 

Edmo do Valle e Paulo Tapajós da Radio Nacional me tiraram do coro na Radio Nacional e disseram: Você vai cantar 3 músicas com grande orquestra; o auditório cheio. Eu avisei minha família para ouvirem. Eu cantei e foi muito bem... só que eu não sabia que a Nacional estava irradiando um jogo de futebol e o show era só para deleite do auditório. Mesmo assim, o Victor Costa ouviu e gostou. Mandou me chamar dizendo para escolher um nome diferente de Sylvinha Barreto e Dora Lopes, meu nome verdadeiro acabou vencendo. o Victor me chamava de 'Cabrita', pois eu era muito espevitada, fazia muito movimento. Gente muito normal não dá certo! V. acha que canta bem?  perguntou o Victor Costa. Eu disse que procurava melhorar... e acabei ficando 9 anos e meio na Radio Nacional. 

Perdi minha mãe num domingo, meu pai morreu 14 dias depois de desgosto. Quando ainda de luto por minha mãe, fui escalada para cantar em São Paulo e depois de cantar 'Baralho da vida' e tendo chorado pensando na minha mãe... notei que a orquestra toda me aplaudiu e eu já desconfiava de algo: logo me contaram que meu pai tinha acabado de falecer no Rio.  

Fui à Europa com a Orquestra do Sergio, da Radio Nacional, ficando 2 anos. Itália, França, Espanha. Ganhei bastante dinheiro, mas os músicos gastaram tudo e eu tive que bancar as passagens de volta deles. 

Meu pai espanhol de Las Palmas na Isla de las Canarias, minha mãe venezuelana.  Meu pai sempre cantava tangos, tocava um violão muito bonito, cantava em duas vozes com minha mãe, meus irmãos todos cantores e a gente cantava muito tango.

Dolores Duran foi a maior amiga que tive. Ela vivia na minha casa e eu na dela; minha família gostava muito dela. Trabalhávamos muito na noite. Ela era crooner no Little Club e eu no Bacarat. Ela vinha me dar canja, e eu ia dar canja à Dolores. Ela vinha me buscar as 4 horas, ou eu ia busca-la. Daí, Dolores dizia: "Vamos comprar nossas revistas intelectuais, Bolinha, Pato Donald!" Quando uma acordava, telefonava para a outra e íamos à casas de discos do Rio e entrávamos nas casinholas de vidro (cabines) e ficávamos curtindo. Ela gostava muito de musica americana.

Numa dessas manhãs de Outubro de 1959, a Dolores me disse: 'Olha Dora, hoje tu não me telefona porque estou muito cansada. Eu vou dormir até morrer!' Eu estava cantando na boite justamente a "Noite do meu bem"; já estavam a Maysa e Marisa me esperando lá fora e eu ouvi dizerem "A Dolores morreu!' Em matéria de caráter e sinceridade ela foi muito. Essa moça ficou em mim. Depois que voltei do enterro dela, fui p'ra casa e fiz a primeira musica.

Nesse último ano e meio tenho tido muita sorte. Noite Ilustrada gravou 'Toalha de mesa', Djalma Pires gravou 'Samba sem viola', Germano Batista, Luiz Américo, Célia estourou com 'Ponto de encontro' e eu já tenho o 'Ponto de encontro no. 2'.


banda: baixo elétrico, piston, piano; baterista: bigode.
detalhe da mão de Dora Lopes na TV Cultura em 1975.
Dora Lopes before the fall... 

DORA LOPES

Dora Lopes
an earlier Dora Lopes photo.
Dora at 'Carioca' when 'Baralho da vida' became a hit.

Dora Lopes had a deep and meaningful relationship with her dolls since she was a child. Here's a 1952 newpaper article about Dora where she says she started her love-affair with music singing lullabys to her beloved dolls. Added photos of Dora with her dolls appeared in 'Mundo Ilustrado' magazine in January 1953.



Reportagem de Alcy Leal para o 'Diário da Noite' de 15 Julho 1952. Dora era conhecida então como 'Loura Atômica'. Leia a legenda da foto acima: Quem poderia evitar o clássico 'fiu-fiu' diante de tão perfeita plastica? Dora Lopes é assim: adora praias, saltos de trampolim, remo, ciclismo e principalmente... cantar.

Dora Lopes in 1953

Dora Lopes começou a cantar ninando suas bonecas

Dora Lopes venceu por seus próprios méritos - De um programa de calouros para o estrelato


Leonora Amar, que se tornou afamada tanto aqui como no exterior, entrou pelas mãos de Ary Barroso, ainda na Radio Cruzeiro do Sul, cantando um samba que fez ficar de boca aberta até o homem do gongo!

Angela Maria, da A-9, essa pequena que canta muito, se iniciou na 'Hora do Pato', até que em 'Papel Carbono', de Renato Murce, foi consagrada como estrêla de primeira grandeza. No mesmo programa, revelou-se Adelaide Chiozzo.

DORA LOPES

Dora Freitas Lopes nasceu em 6 Novembro 1922, no Rio de Janeiro.

Desde garotinha que vivo botando a bôca no mundo... Comecei a cantoria nimando minhas bonecas. Depois cantava sempre. Começava pelo banheiro. Quanto mais fria a agua do chuveiro, mais forte ouviam minha voz. Uma empregada de casa de apelidou de 'sabia´', mas mais parecia um 'tico-tico no fubá', tão irriquieta eu era. Certa vez, no recreio da escola, comecei a cantar para as colegas. A professora ouviu e franziu a testa. Quando, tremendo de mêdo, pensava ouvir um carão, ela se explicou: 'Sabe o que eu estava pensando? Você tem uma voz bonita e canta com muita graça. Prepare-se para uma exibição na festa do encerramento das aulas'.

A empregada que servia o jantar, quando eu contava em casa o convite da professora, disse logo: 'Tá í, pronto! O sabiá já vai botar os bofes pela bôca fora da gaiola. Num dizia, madama? Esta menina num tem jeito mesmo...!

De 'prima-donna' das festas colegiais fui promovida a 'caloura' no programa da Tupi. Menino, quando vi a cara fechada do Ary Barroso, lembrei-me da expressão da professora. Pensei então: 'Quem sabe se ele também não acha que eu sou aproveitável?'  Estava nervosa e parecia mesmo um 'tico-tico no fubá', pois não encontrava posição para ficar alí, enfrentando pela 1a. vez um microfone. E quando Ary disse: 'Senhorita, isto não morde! Veja se fica quieta, sem tremer!', tive vontade que o chão se abrisse para eu sumir. Consegui tirar o 1o. lugar apesar da tremedeira.

Dora Lopes se iniciou como parte da dupla Tip Tin, que durante muito tempo atuou na extinta Radio Ipanema. Mas a dupla se desfêz e nasceu o conjunto Seis Pequenas do Barulho, que na Radio Globo atuou durante meio ano.

O conjunto se dispersando, também coube a vez de entrar Cupido no barulho. Por motivos sentimentais, Dora Lopes deixou o Radio. Mas a 'Loura Atômica' não permaneceu muito tempo longe do microfone. Fêz a sua volta em grande estilo, sozinha, lem 1944 e desde então Dora está na PRE-8.


reportagem de Alcy Leal
Diario da Noite - 15 Julho 1952
Agradecimentos a Alberto de Oliveira, que forneceu o material jornalístico para essa postagem.


Dora on the cover of Revista do Radio on 14 November 1953.
Radiolandia December 1954.

Em Dezembro de 1954, acusada de mais uma tentativa de suicídio, Dora Lopes procurou esclarecer o caso para a revista 'Radiolândia' e posou com sua coleção de bonecas: 'Dora ainda brinca com bonecas. Como poderia pensar em morrer?...' perguntava a revista. Reportagem cedida por Alberto de Oliveira. 


Dora is embraced by Cuban bombshell Maria Antonieta Pons who was appearing at movies in Brazil.
Father Lopes, daughter & dearest Mother Lopes in the act of smoking...

A notável sambista loura, cujo mais recente sucesso é o samba-canção 'Baralho da vida', é contratada exclusiva da Sinter. Dora Lopes, no momento, excursiona com a orquestra de Ary Barroso em 'tournée' pelas Americas.

BARALHO DA VIDA


Você é uma carta demais no baralho da vida
que o presente me traz
zombar p'ra você é um prazer 
uma felicidade unida ao sofrer

Mas quando a  sorte virar e você compreender
vai reclamar
e eu lhe direi bem baixinho
é tarde demais p'ra chorar 

depois você vai ver o que perdeu
no baralho da vida 
quem dá as cartas sou eu.

samba-canção de Ulisses de Oliveira
78 rpm de Dora Lopes - Sinter - Abril 1953.

Doras Lopes em foto promocional da Sinter.

CONVENTO 

Eu perdi tanto tempo 
pensando que amava, sem saber
só conheci o amor 
no dia em que vim a lhe conhecer

Meu passado cruel, esqueci
e o sol em minh' alma brilhou
o caminho decente da vida
foi você quem me mostrou 

Você é a expressão da sinceridade
seu coração é todo feito de bondade
sem você minha vida seria um tormento
porisso é que eu digo: 
depois de você, só um convento. 


samba-canção de Carmen Costa & Mirabeau
gravação de Dora Lopes - 1954.

Samba-canção bem melodioso, tendo um solo de clarinete nostálgico, conta a história de uma mulher 'caída', que só vem a conhecer o amor depois que conhece seu 'redentor', que a tira da 'vida fácil'. Drama comum nas músicas dos anos 1950s.

ÉS NADA, NINGUÉM

Não te esqueças de que da terra tu viestes
e que à terra, cedo ou tarde, tornarás
com a cinza do teu cigarro, te compares
pois tu és cinza, cinza apesar dos pesares

Tu não és de nada, embora tudo te convença em ser
e sendo nada, em nada tu me fazes crer
o que tu és foi casualidade da natureza
tu és ninguém, disto eu tenho certeza

E não vás pensar que seja o despeito 
ou mágoa que eu tenha comigo
por sepultar meu caso de amor contigo.

samba-canção de Clovis Santos
78 rpm de Dora Lopes - 1954

O lado A do 78 rpm é outro samba-canção muito bem orquestrado, tendo um solo de clarinete dos mais inspirados no interlúdio. O andamento chega a lembrar as orquestras Big Bands e a nota final que Dora dá é bem maneira.


Dora Lopes posa com sua boneca favorita, mais uma bonequinha de verdade, em reportagem da revista 'Mundo Ilustrado' de Janeiro de 1953.


Dora em 'Mundo Ilustrado' para o Carnaval de 1954, que gravou 'Tô pegando fôgo', para a Sinter.

Dora, chiquíssima, ao telefone; e com seu  violão em instantâneo para a 'Mundo Ilustrado' 1954.
Dora, Chocolate & Marion biding their time to get on air possibly at Radio Nacional, Rio de Janeiro.





article in 'Correio da Manhã' - 15 February 1957.

Dora Lopes marca a cadência com um pandeiro, acompanhada de regional com cavaquinho, flauta e violão.
Dora Lopes sendo afagada pela multidão que assistiu ao show em Brasilia em 1959, antes mesmo da inauguração da Nova Cap. O grande Cyro Monteiro em primeiro plano; atrás de Cyro, a acordeonista e cantora Adelaide Chiozzo ao lado do violonista Carlos Mattos, seu marido; e no centro, o sempre sorridente Jorge Veiga
Dora e os pracinhas de Brasilia, a Capital da Esperança, em 1959 ou 1960.
Dora faz um mimo num pracinha da platéia.
Leonora Amar, cantora e atriz brasileira que fez sucesso no Mexico.

Leonora Amar nasceu 1926, começou carreira nas rádios Mayrink Veiga, Tupi e Nacional, do Rio. Em 1943, com apenas 17 anos, foi para os Estados Unidos. Morou em Los Angeles, dividindo apartamento com Linda Darnell. Em seguida, mudou-se para o México. Descoberta pelo produtor Raul de Anda, estrelou o filme “Desquite” e, em seguida, “Cuide de seu Marido”. Tornou-se celebridade no México, conheceu o futuro presidente da República Miguel Aleman, com quem se casou e teve dois filhos.

Ary Barroso apresenta seu programa de calouros na PRG-3, Radio Tupi do Rio de Janeiro-DF.
Ary tendo ao fundo Macalé, terrível ajudante que gongava aqueles que desafinavam, semi-tonavam, comiam etapas, pulavam o rítmo, atropelavam o andamento etc.

DORA LOPES ajuda na construção de Brasilia

Dora Lopes, Lelé e a dona do circo em Brasilia às margens do rio Paranoá, onde foi construida a barragem.

João Filgueiras Lima, o Lelé, arquiteto, conta histórias que presenciou durante as obras de construção de Brasilia.


Para amenizar as tensões nos acampamentos, eram promovidos churrascos, reuniões e alguns eventos artísticos. Em uma dessas ocasiões, a cantora carioca Dora Lopes se apresentou em um circo instalado no Núcleo Bandeirante e eu fui convocado às pressas para acompanhá-la com meu acordeom porque o profissional por ela contratado não comparecera. Tivemos que realizar um pequeno ensaio já na hora do espetáculo e entrei em cena quase sem saber como seria a apresentação. No último número, em que dançava cantando o bolero 'Babalú', ela fez um streap-tease que terminou com as luzes do circo se apagando totalmente e ela, para criar um clímax na assistência, encostou-se escandalosamente em mim.

No meio da grande algazarra que se estabeleceu na plateia de centenas de operários, eu podia distinguir as vozes em coro que gritavam: Agarra ela, doutor! No dia seguinte evidentemente tive que dar explicações aos operários da minha obra sobre o relacionamento com a cantora depois do show.

leia mais em: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/192/artigo163570-2.asp

caderneta de endereços de Dolores Duran, mostrando o de Dora Lopes, na rua Honorio, 1.259.